domingo, 13 de fevereiro de 2011

QUEM ÉS TU, Ó LIBERDADE?



"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..." 

Cecília Meireles - Romanceiro da Inconfidência



   Não irei tratar da liberdade no seu sentido metafísico, desta que simplesmente  basta fechar os olhos e se aprisionar nas armadilhas da imaginação. Não tenho pretensões de apresentá-la sob a ótica da ontologia, sinto certo receio dos caminhos que tais elucubrações poderiam me levar. Aliás, como bem lembra F. Pessoa, "há metafísica bastante em não pensar em nada" e seguindo o seu conselho irei traçar um caminho que não se arrisca, pela incapacidade, a adentrar ao reino dos imortais. A liberdade que irei expressar é aquele que veste a alma humana e que encontra sua digna expressão na política. 
         Eis que, por ela e em nome dela, impérios se levantaram e sucumbiram, guerras e revoluções se legitimaram, multidões se lançaram as ruas materializando o "POVO", fazendo ecoar a unidade, o coletivo, o público ao ritmo da Liberdade, Liberdade, Liberdade! Instaurando o "Terror", silenciando ditaduras, derrubando regimes, desatando "nós", correntes e ideologias que massificam e aprisionam a mente humana.
       A liberdade que recobro está muito além do sentido atribuído pelos homens de agora, que acreditam serem livres por gozarem de seus bens e propriedades, como se fosse possível exteriorizar nas coisas que possuem a essência do homem enquanto ser livre. Essa noção marginal e trivial da liberdade, isola o homem do mundo e o faz acreditar que no deleite de suas conquistas privadas reina a máxima da liberdade.
        Não percebem, pela indolência do tempo, que o ideal a qual agarram com unhas e dentes, não descreve um discurso libertário mas ao contrário, contribui para a "servidão voluntária", servidão esta que pela ironia do destino se denomina historicamente "Liberalismo".
           Poderás ainda, pelo calor do discurso, definir a liberdade como limites de arbítrios, esta que se conjuga na máxima de que "a liberdade de cada sujeito vai até onde começa a do outro (semelhante)". Sem dúvida, isso não caracteriza um sentido político de Liberdade, embora manifeste um sentido comum e usual. Esse discurso costumeiro camufla um ideal do capital que passa a considerar o homem não mais como um ser social (Aristóteles), ao contrário, postula uma nova essência humana baseada no individualismo e egocentrismo. 
      Pensar a liberdade tendo o "outro" como um obstáculo e limite é não pensar a liberdade, é todavia, aceitar o homem como um átomo isolado disperso pelo mundo. Como posso ser livre estando só ? O eu comigo mesmo! Nem desfrutando das maiores riquezas desse mundo, poderei dizer, sob o julgo da minha própria consciência, que sou um homem livre.
        A liberdade que outrora incomodava as mentes sãs e que humildemente procuro revogar nesse texto, é aquela que não se limita ao espaço do labor e produção, mas que se espalha pelo mundo afora, invadindo corpos estranhos, confrontando-se com opiniões divergentes. A autêntica liberdade é política, pública e social. Se concretiza na ação, na capacidade de sair do isolamento e se colocar a disposição ou mesmo, ao enfrentamento do outro.
        Sob esta ótica, o mundo da liberdade é o mundo público e não mais o privado. Sua realização está na construção do coletivo e seu instrumento é o diálogo, a porta de acesso para o mundo, onde as aspirações, vontades e ideais possam se manifestar revelando os seres e sua intenções. 
Eis ai, um sentido digno de Liberdade!  
Por:   Maicon Fortunato

Um comentário:

  1. Olha ele ai outra vez, com mais uma de suas obras.
    Nunca observei a "liberdade" por esse viés, mas ao ler seu texto percebi que vivemos em um grande cenário e que muitas de nossas atitudes são individualistas e mesquinhas, achamos que somos livres porque "pagamos nossas contas", quando na verdade pagar nossas contas nada mais é do que a prova da nossa "não liberdade".

    Parabéns!

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