sábado, 18 de setembro de 2010

O RESGATE POLÍTICO (continuação)





               




Eis aqui a continuação da reflexão do "Pensador" acerca do sentido político. Aos amáveis leitores peço que não se aborreçam com a pobreza de meu engenho. Sendo assim, recebam este texto do modo como se tomam todas as coisas dos amigos: considerando mais a intenção de quem manda do que as qualidades da coisa mandada.


Quando retornamos ao modelo de democracia dos gregos não queríamos reviver os eventos e o contexto dos mesmos, apenas estávamos alertando para os fundamentos da vida política. Independente de quais fossem as condições históricas havia no berço da filosofia princípios essenciais para a saúde do corpo político. Tais princípios aclamavam a liberdade pública (o que perdemos hoje) e a partição na esfera coletiva. A Ágora (praça pública) enquanto espaço das instituições políticas alimentava os debates e discursos. O direito à palavra (isègoria) era um elemento indispensável para a boa ordenação da cidade. Além do mais, a isonomia reservava a igualdade de direitos perante a lei.
Por outro lado, se tomarmos o modelo grego como referencial para a política atual, iremos claramente perceber a ausência do "sentido" político. Como já observamos outrora, a política foi reduzida à mera satisfação das necessidades, se tornando uma atividade dispendiosa e puramente burocrática. Não existe em nossos dias, um espaço de manifestação política, em outras palavras, não há uma esfera institucional que dê ouvidos a população. Os partidos estão fechados em suas mônadas impossibilitando a participação da sociedade. E quando esta última procura reivindicar seus direitos não faz por vias legais, pois inexiste uma "Ágora" que acalenta seus anseios. Assim, as grandes conquistas sociais não ocorreram pela vontade deliberada dos nossos representantes, ao contrário, foi por meios "Extraordinários" que o povo forjou seus direitos.
Se um Estado é incapaz de escutar os clamores de seus cidadãos e de colocá-los como peças fundamentais para a organização do espaço político, este Estado já apresenta forte indício de degeneração. Desse modo, podemos sem receio dizer que, o Estado atual não se configura como um estado político. Gostaríamos de retornar a história para reforçar essa afirmação. Desta vez nos ocuparemos do Estado Romano, antes deste se tornar império. Quando Roma possibilitou o surgimento dos tribunos da plebe, não somente equilibrou o poder dos cônsules e dos senadores, mas institucionalizou os conflitos sociais. Nesse sentido, garantiu a população um espaço na organização da cidade tornando-se assim, uma república sadia.
O leitor já deve ter compreendido por quais caminhos envereda nosso texto. O resgate político do qual nos apropriamos é antes de tudo, uma (re)significação da AÇÃO política. Não reivindicamos uma igualdade material ou um estado sem classes, receio àqueles que propõem tal intento. Aliás, é preciso estar atento aos discursos que prezam pelo universal, como se um grupo específico fosse capaz de dizer o que seria melhor para todos. Ao contrário, a política da qual comungamos é aquela fundada na pluralidade, ou seja, na soma de vontades particulares que se unem em prol de um benefício comum.
É o significado de ação que nos permitem pensar um conceito para política. Conceito que não nasce de um modelo fixo ou ideal, mas, ao contrário, se constrói pela própria dinâmica da participação popular. Assim, a ágora grega e os tribunos romanos se configuraram como espaços políticos porque possibilitaram as manifestações dos grupos sociais por meio de instrumentos legais.

Maicon Fortunato - 2010



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A regressão da Política










O que é a Política?

        Uma questão aparentemente simples ou não? Talvez os políticos possam responder com clareza o sentido desse conceito, afinal de contas, são os legítimos representantes dessa arte. Todavia, poderia meu leitor requerer para si o direito de manifestar sua opinião sobre esse tema, pois como diria Aristóteles, somos todos animais políticos (Zoon Politikon). Pensando exatamente na complexidade que reserva esse assunto coloquei-me a pensar e a escrever algumas considerações que julgo ser de extrema importância.
          Primeiramente, gostaria de analisar a compreensão que a sociedade atual possui sobre o referido termo. Para isso não será preciso muito dispêndio intelectual basta observar o movimento da massa. A sociedade civil procura a satisfação de suas necessidades básicas como, por exemplo, alimentação, moradia, emprego...Desse modo, projeta para a política o dever de saciar tais anseios. E a partir daí, escutamos coisas do tipo, política é tramitação de verbas e licitações, envio de recursos aos municípios, enfim, uma esfera burocrática e puramente funcional. 
              Isso se torna mais visível nos períodos eleitorais, onde o discurso versa sobre aquele que fez ou que ainda poderá fazer algo. Mas o que seria esse algo? Nada mais do que, recursos "materiais" . E os panfletos que circulam pelas cidades apresentam a figura do bom rapaz, que durante seu laborioso período de gestão foi capaz de viabilizar "um caminhão" e coisas do gênero. Diante dessa realidade, a população forjou um conceito de Política que de tão cômico, tornou-se bizarro. 
               Seguindo a lógica que sustenta essa concepção, tomemos algumas problemáticas para pensar melhor esse ardiloso tema. Se política realmente for o que se apresenta em nossos dias, o que dizer do voto, ou seja, qual a importância da participação social e dos elementos que compõem suas manifestações? Ora, ao reduzir o corpo político a administração de cidades, Estados e Países, o voto que julgamos ser um componente indispensável para a vida política, se torna desnecessário e ainda, inútil. Poderíamos ao invés de votar, contratar um grupo de administradores ou quem sabe terceirizar esses serviços para um grupo de estrangeiros, e ainda, selecionar pessoas para esses afazeres por meio de um concurso público. Por que não fazer? Essas alternativas me parecem tão plausíveis e até melhores do que o voto. Assim, evitaríamos o desperdício de dinheiro público com campanhas eleitorais e não perderíamos o domingo (tempo sagrado para a TV) tendo que ir votar. Estaríamos colocando pessoas eficazes e capazes de administrar o bem público que no mínimo manteriam as coisas como estão, pois "pior do que tá não fica".
               Tomando a política sob esta ótica, as coisas se tornam mais extremas ainda, vejamos: Um Estado totalitário do tipo nazista, desde que sacie as necessidades básicas da raça ariana, isto é, garantido boas condições de vida para seu povo, poderia ser julgado como um excelente regime. Um ditador que mantenha seu povo de bolso e boca cheia será por nossa sociedade louvado. Pois bem, meus caros, Política a meu ver não se resume à administração do bem público. Contudo, a resposta para a questão inicial ainda permanece latente e um amável amigo a fim de salvar o que restou do sentido político, buscaria refúgio nas organizações partidárias. Convicto de seus ideais encontraria nos movimentos de partidos políticos o espaço em que a política, tal como estamos pensado, realmente acontecesse. Mas volto a problematizar e dessa vez coloco como questão a essência dos partidos, isto é, qual a característica política existente nos partidos? 
      Seria a capacidade de representar e legitimar os interesses da sociedade? Não estou convencido dessa prerrogativa. Que espaço de deliberação existe nesses movimentos? Basicamente, nenhum. Quando aderimos a um partido nossos ideais e interesses particulares pouco importa, não existe nesses uma instância de debates e conflitos de opiniões. Na verdade, nossa inserção implica num juízo apriorístico de que, nossa posição política é aquela ofertada pelo partido. Desse modo, não há política dentro dos partidos políticos, o que existe de fato neles são interesses privados de grupos e representações financeiras. Não precisamos ir longe para perceber a veracidade de minhas palavras, basta olhar para a política local, aqueles "políticos" que até então não haviam se corrompido, hoje são aliados de grandes empresários.
            Apesar de desconstruir o significado atual, nos falta ainda, apresentar um caminho que possibilite pensar o conceito política. Para isso, devemos voltar à raiz ou ao fundamento de todo processo histórico que constituí o pensamento político. Refiro-me a Grécia antiga, se analisar brevemente a organização social daquele povo, veríamos que antes mesmo da existência da esfera pública os gregos tinham uma invejável estrutura social, ou seja, do ponto de vista da administração de suas necessidades a política não seria necessária. Mas com qual intuito teria surgido a política? o leitor mais atento, já deve ter associado o termo Polis (cidade) à Política e acredito ser dessa associação que nasce o verdadeiro sentido desse conceito. No berço da civilização, política estava associada à decisão sobre assuntos referentes a polis e tinha como característica própria, a presença do debate, da arguição que deixavam de ser privilégio de alguns grupos (não estamos colocando em questão a divisão social).


CONTINUAÇÃO...
             

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