sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Gostaria de aproveitar esse meu espaço para fazer uma singela homenagem à uma pessoa especial  que infelizmente, nos deixou.

Guardo boas lembranças de minha infância e hoje recobrei uma em particular, trata-se da doce brincadeira de decifrar as imagens formadas pelas nuvens.  Aprendi esse passatempo com minha tia, em algumas de suas viagens ao Paraná. Era uma época encantadora, talvez porque fosse marcada pela minha inocência ou porque de fato, aqueles finais de ano pareciam mais valorosos e significativos.
Ainda trago em minha memória aquelas lembranças:
Deitávamos no piso da varanda e passávamos horas observando as nuvens. Eu tinha seis ou sete anos, adorava fazer aquilo e a companhia de minha tia que parecia se entregar na brincadeira tornava a diversão mais viva. As nuvens acompanhando nossas imaginações se desenhavam de animais, pessoas e objetos. 
Embora, minha tia não soubesse a dimensão e proporção que aquele gesto teria para mim, eu hoje olhando para o passado, percebo que a gentileza de sua companhia naquela brincadeira marcaria um momento fundamental no que passei a considerar como a melhor fase de minha vida.
Hoje a tarde, depois de uma notícia triste, olhei para o céu e pude ver algumas nuvens, tentei descrever uma imagem, como muito bem fazíamos naquele tempo, mas não consegui, me faltava algo.
Vi a tristeza na face de meus entes queridos, confesso  que não hesitei em pensar justificativas para essas peças que a vida nos aplica de vez em quando, porém nada encontrei. 
Mas uma ideia confortou meu espírito, veio subitamente em minha mente um dever de não aceitar que se apague essas singelas lembranças. E se a vida  me permitir, irei propagar essa brincadeira ao lado de meus filhos, como outrora, deitaremos no piso da varanda e iremos observar as nuvens. Não esquecerei de me entregar vivamente a esse precioso momento e por fim, reavivarei em minha alma uma pessoa que jamais poderia passar despercebida, tia Helena.
                                 
                                                                                                      09/12/10 - Maicon Fortunato





sábado, 27 de novembro de 2010

A CRISE NO RIO E O PASTICHE MIDIÁTICO




Eis por que as perguntas mencionadas são expressivas do pobre modelo explicativo corrente e por que devem ser consideradas obstáculos ao conhecimento e réplicas de hábitos mentais refratários às mudanças inadiáveis. Respondo sem a elegância que a presença de um entrevistador exigiria. Serei, por assim dizer, curto e grosso, aproveitando-me do expediente discursivo aqui adotado, em que sou eu mesmo o formulador das questões a desconstruir. Eis as respostas, na sequência das perguntas, que repito para facilitar a leitura:
(a) O que fazer, já, imediatamente, para sustar a violência e resolver o desafio da insegurança?
Nada que se possa fazer já, imediatamente, resolverá a insegurança. Quando se está na crise, usam-se os instrumentos disponíveis e os procedimentos conhecidos para conter os sintomas e salvar o paciente. Se desejamos, de fato, resolver algum problema grave, não é possível continuar a tratar o paciente apenas quando ele já está na UTI, tomado por uma enfermidade letal, apresentando um quadro agudo. Nessa hora, parte-se para medidas extremas, de desespero, mobilizando-se o canivete e o açougueiro, sem anestesia e assepsia. Nessa hora, o cardiologista abre o tórax do moribundo na maca, no corredor. Não há como construir um novo hospital, decente, eficiente, nem para formar especialistas, nem para prevenir epidemias, nem para adotar procedimentos que evitem o agravamento da patologia. Por isso, o primeiro passo para evitar que a situação se repita é trocar a pergunta. O foco capaz de ajudar a mudar a realidade é aquele apontado por outra pergunta: o que fazer para aperfeiçoar a segurança pública, no Rio e no Brasil, evitando a violência de todos os dias, assim como sua intensificação, expressa nas sucessivas crises?
Se o entrevistador imaginário interpelar o respondente, afirmando que a sociedade exige uma resposta imediata, precisa de uma ação emergencial e não aceita nenhuma abordagem que não produza efeitos práticos imediatos, a melhor resposta seria: caro amigo, sua atitude representa, exatamente, a postura que tem impedido avanços consistentes na segurança pública. Se a sociedade, a mídia e os governos continuarem se recusando a pensar e abordar o problema em profundidade e extensão, como um fenômeno multidimensional a requerer enfrentamento sistêmico, ou seja, se prosseguirmos nos recusando, enquanto Nação, a tratar do problema na perspectiva do médio e do longo prazos, nos condenaremos às crises, cada vez mais dramáticas, para as quais não há soluções mágicas.
A melhor resposta à emergência é começar a se movimentar na direção da reconstrução das condições geradoras da situação emergencial. Quanto ao imediato, não há espaço para nada senão o disponível, acessível, conhecido, que se aplica com maior ou menor destreza, reduzindo-se danos e prolongando-se a vida em risco. 
A pergunta é obtusa e obscurantista, cúmplice da ignorância e da apatia.

(b) O que as polícias fluminenses deveriam fazer para vencer, definitivamente, o tráfico de drogas?
Em primeiro lugar, deveriam parar de traficar e de associar-se aos traficantes, nos arregos celebrados por suas bandas podres, à luz do dia, diante de todos. Deveriam parar de negociar armas com traficantes, o que as bandas podres fazem, sistematicamente. Deveriam também parar de reproduzir o pior do tráfico, dominando, sob a forma de máfias ou milícias, territórios e populações pela força das armas, visando rendimentos criminosos obtidos por meios cruéis.
Ou seja, a polaridade referida na pergunta (polícias versus tráfico) esconde o verdadeiro problema: não existe a polaridade. Construí-la isto é, separar bandido e polícia; distinguir crime e polícia-- teria de ser a meta mais importante e urgente de qualquer política de segurança digna desse nome. Não há nenhuma modalidade importante de ação criminal no Rio de que segmentos policiais corruptos estejam ausentes. E só por isso que ainda existe tráfico armado, assim como as milícias.
Não digo isso para ofender os policiais ou as instituições. Não generalizo. Pelo contrário, sei que há dezenas de milhares de policiais honrados e honestos, que arriscam, estóica e heroicamente, suas vidas por salários indignos. Considero-os as primeiras vítimas da degradação institucional em curso, porque os envergonha, os humilha, os ameaça e acua o convívio inevitável com milhares de colegas corrompidos, envolvidos na criminalidade, sócios ou mesmo empreendedores do crime.
Não nos iludamos: o tráfico, no modelo que se firmou no Rio, é uma realidade em franco declínio e tende a se eclipsar, derrotado por sua irracionalidade econômica e sua incompatibilidade com as dinâmicas políticas e sociais predominantes, em nosso horizonte histórico. Incapaz, inclusive, de competir com as milícias, cuja competência está na disposição de não se prender, exclusivamente, a um único nicho de mercado, comercializando apenas drogas mas as incluindo em sua carteira de negócios, quando conveniente. O modelo do tráfico armado, sustentado em domínio territorial, é atrasado, pesado, anti-econômico: custa muito caro manter um exército, recrutar neófitos, armá-los (nada disso é necessário às milícias, posto que seus membros são policiais), mantê-los unidos e disciplinados, enfrentando revezes de todo tipo e ataques por todos os lados, vendo-se forçados a dividir ganhos com a banda podre da polícia (que atua nas milícias) e, eventualmente, com os líderes e aliados da facção. É excessivamente custoso impor-se sobre um território e uma população, sobretudo na medida que os jovens mais vulneráveis ao recrutamento comecem a vislumbrar e encontrar alternativas. Não só o velho modelo é caro, como pode ser substituído com vantagens por outro muito mais rentável e menos arriscado, adotado nos países democráticos mais avançados: a venda por delivery ou em dinâmica varejista nômade, clandestina, discreta, desarmada e pacífica. Em outras palavras, é melhor, mais fácil e lucrativo praticar o negócio das drogas ilícitas como se fosse contrabando ou pirataria do que fazer a guerra. Convenhamos, também é muito menos danoso para a sociedade, por óbvio.
(c) O Exército deveria participar?
Fazendo o trabalho policial, não, pois não existe para isso, não é treinado para isso, nem está equipado para isso. Mas deve, sim, participar. A começar cumprindo sua função de controlar os fluxos das armas no país. Isso resolveria o maior dos problemas: as armas ilegais passando, tranquilamente, de mão em mão, com as benções, a mediação e o estímulo da banda podre das polícias.
E não só o Exército. Também a Marinha, formando uma Guarda Costeira com foco no controle de armas transportadas como cargas clandestinas ou despejadas na baía e nos portos. Assim como a Aeronáutica, identificando e destruindo pistas de pouso clandestinas, controlando o espaço aéreo e apoiando a PF na fiscalização das cargas nos aeroportos.
Claro. Mais uma vez.
Sem dúvida. Somos ótimos em eventos. Nesses momentos, aparece dinheiro, surge o espírito cooperativo, ações racionais e planejadas impõem-se. Nosso calcanhar de Aquiles é a rotina. Copa e Olimpíadas serão um sucesso. O problema é o dia a dia. 
Palavras Finais

Traficantes se rebelam e a cidade vai à lona. Encena-se um drama sangrento, mas ultrapassado. O canto de cisne do tráfico era esperado. Haverá outros momentos análogos, no futuro, mas a tendência declinante é inarredável. E não porque existem as UPPs, mas porque correspondem a um modelo insustentável, economicamente, assim como social e politicamente. As UPPs, vale dizer mais uma vez, são um ótimo programa, que reedita com mais apoio político e fôlego administrativo o programa Mutirões pela Paz, que implantei com uma equipe em 1999, e que acabou soterrado pela política com p minúsculo, quando fui exonerado, em 2000, ainda que tenha sido ressuscitado, graças à liderança e à competência raras do ten.cel. Carballo Blanco, com o título GPAE, como reação à derrocada que se seguiu à minha saída do governo. A despeito de suas virtudes, valorizadas pela presença de Ricardo Henriques na secretaria estadual de assistência social --um dos melhores gestores do país--, elas não terão futuro se as polícias não forem profundamente transformadas. Afinal, para tornarem-se política pública terão de incluir duas qualidades indispensáveis: escala e sustentatibilidade, ou seja, terão de ser assumidas, na esfera da segurança, pela PM. Contudo, entregar as UPPs à condução da PM seria condená-las à liquidação, dada a degradação institucional já referida.
O tráfico que ora perde poder e capacidade de reprodução só se impôs, no Rio, no modelo territorializado e sedentário em que se estabeleceu, porque sempre contou com a sociedade da polícia, vale reiterar. Quando o tráfico de drogas no modelo territorializado atinge seu ponto histórico de inflexão e começa, gradualmente, a bater em retirada, seus sócios as bandas podres das polícias-- prosseguem fortes, firmes, empreendedores, politicamente ambiciosos, economicamente vorazes, prontos a fixar as bandeiras milicianas de sua hegemonia.
Discutindo a crise, a mídia reproduz o mito da polaridade polícia versus tráfico, perdendo o foco, ignorando o decisivo: como, quem, em que termos e por que meios se fará a reforma radical das polícias, no Rio, para que estas deixem de ser incubadoras de milícias, máfias, tráfico de armas e drogas, crime violento, brutalidade, corrupção? Como se refundarão as instituições policiais para que os bons profissionais sejam, afinal, valorizados e qualificados? Como serão transformadas as polícias, para que deixem de ser reativas, ingovernáveis, ineficientes na prevenção e na investigação?
As polícias são instituições absolutamente fundamentais para o Estado democrático de direito. Cumpre-lhes garantir, na prática, os direitos e as liberdades estipulados na Constituição. Sobretudo, cumpre-lhes proteger a vida e a estabilidade das expectativas positivas relativamente à sociabilidade cooperativa e à vigência da legalidade e da justiça. A despeito de sua importância, essas instituições não foram alcançadas em profundidade pelo processo de transição democrática, nem se modernizaram, adaptando-se às exigências da complexa sociedade brasileira contemporânea. O modelo policial foi herdado da ditadura. Ele servia à defesa do Estado autoritário e era funcional ao contexto marcado pelo arbítrio. Não serve à defesa da cidadania. A estrutura organizacional de ambas as polícias impede a gestão racional e a integração, tornando o controle impraticável e a avaliação, seguida por um monitoramento corretivo, inviável. Ineptas para identificar erros, as polícias condenam-se a repeti-los.
Elas são rígidas onde teriam de ser plásticas, flexíveis e descentralizadas; e são frouxas e anárquicas, onde deveriam ser rigorosas. Cada uma delas, a PM e a Polícia Civil, são duas instituições: oficiais e não-oficiais; delegados e não-delegados. 
E nesse quadro, a PEC-300 é varrida do mapa no Congresso pelos governadores, que pagam aos policiais salários insuficientes, empurrando-os ao segundo emprego na segurança privada informal e ilegal.

Uma das fontes da degradação institucional das polícias é o que denomino "gato orçamentário", esse casamento perverso entre o Estado e a ilegalidade: para evitar o colapso do orçamento público na área de segurança, as autoridades toleram o bico dos policiais em segurança privada. Ao fazê-lo, deixam de fiscalizar dinâmicas benignas (em termos, pois sempre há graves problemas daí decorrentes), nas quais policiais honestos apenas buscam sobreviver dignamente, apesar da ilegalidade de seu segundo emprego, mas também dinâmicas malignas: aquelas em que policiais corruptos provocam a insegurança para vender segurança; unem-se como pistoleiros a soldo em grupos de extermínio; e, no limite, organizam-se como máfias ou milícias, dominando pelo terror populações e territórios. Ou se resolve esse gargalo (pagando o suficiente e fiscalizando a segurança privada /banindo a informal e ilegal; ou legalizando e disciplinando, e fiscalizando o bico), ou não faz sentido buscar aprimorar as polícias.
O Jornal Nacional, nesta quinta, 25 de novembro, definiu o caos no Rio de Janeiro, salpicado de cenas de guerra e morte, pânico e desespero, como um dia histórico de vitória: o dia em que as polícias ocuparam a Vila Cruzeiro. Ou eu sofri um súbito apagão mental e me tornei um idiota contumaz e incorrigível ou os editores do JN sentiram-se autorizados a tratar milhões de telespectadores como contumazes e incorrigíveis idiotas.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro à farsa.
Luiz Eduardo Soares é professor da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Tem pós-doutorado em Filosofia Política e foi secretário nacional de Segurança Pública (2003). É autor, entre outros livros, de Elite da tropa, com André Batista e Rodrigo Pimentel (Objetiva, 2006).

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Precisamos de uma Ética, mas qual?

O que pensar de uma sociedade altamente evoluída? O que dizer de seus desenvolvimentos tecnológicos? Parece que a humanidade caminha para a realização plena do bem estar social. Em 1969, o homem pisou na Lua e a célebre frase trouxe a tônica daquilo que caracterizaria um avanço na história humana: “Este é um pequeno passo para o homem, mas um enorme salto para a humanidade”. Ainda na década de 60, ocorreram as primeiras interações sociais através da rede computacional, isto é, a internet começava a dar seus primeiros passos.
Hoje, após quarenta anos, caminhamos com “passos de formigas e sem vontade” e toda alusão a uma sociedade altamente evoluída, tornou-se devaneio. Talvez seja pelo fato de todos os anos cerca de 18 milhões de pessoas (50 mil por dia) morrerem por razões relacionadas com a pobreza, sendo a maioria mulheres e crianças, ou porque cerca de 11 milhões de crianças morrem antes de completarem cinco anos. Quem sabe estamos assim, por perceber que a realidade não condiz com o conto de fadas do “homem da lua”, por assistir à violência que se alastra por todos os lugares, a corrupção que contamina a política, as drogas que desvirtuam nossos filhos, a degradação e poluição do planeta e a ganância e egoísmo do capital que assola nossos lares.
Muito mais do que “tecnologia e lucratividade”, precisamos do pensar. Pensar a vida, seus sentidos e significados, propondo assim, um agir capaz de unir a humanidade em prol de um bem comum, ou seja, a realização plena da própria vida. Mas qual caminho seguir? Como alcançar tal façanha? Não existem receitas prontas capazes de solucionar o problema da condição humana, porém, isso não impossibilita a reflexão sobre os valores humanos e os possíveis caminhos que assegurariam os princípios fundamentais para a vida. Sob este aspecto, a Filosofia tem muito a dizer e nós muito a escutar.

Maicon Fortunato.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

AUTORRETRATO





Desatei todos os meus nós,
quebrei as correntes que me aprisionavam,
retirei as mordaças que me impediam de falar,
matei os meus heróis e extirpei meus monstros,
abandonei os meus sonhos e assim, a ilusão.            

Procurei apagar meu retrato e percebi que
já não era possível.
Então, criei uma nova roupagem,
desconfigurada, diferente de toda normalidade
insana que existe nesse mundo.                                                    

Desfiz-me da bengala e percebi sua inutilidade,
apaguei a memória, deletei todos os arquivos,
sem receio, sem medo, me tornei um cético.
Mas não demorou muito até perceber que
o ceticismo também era uma ilusão.

Encarei todos os mistérios da vida
e percebi que não haviam mistérios,
isso fez com que a própria vida  deixasse de ser um fardo.

Libertei-me!
Sem precisar temer algo,
sem o flagelo de minha consciência,
sem a constante necessidade de me perdoar,
sem punição, pecado, crime e castigo.

Devo confessar, sou um retrato inacabado,
cuja existência precede a própria essência,
um porvir, um vindouro, um vir-a-ser,
um homem FELIZ...

                                                                 Por: Maicon J. Fortunato

sábado, 30 de outubro de 2010

QUAL O FUNDAMENTO DO DISCURSO POLÍTICO?





Qual a característica fundamental do discurso político? O que o distingue dos outros discursos? Por que é preciso ter clareza dos elementos que embasam um discurso que se julga político? 

      São algumas considerações sobre essas questões que pretendemos tratar nesse pequeno texto (informativo). Tal intento se fez presente devido às patifarias e bobagens primorosas dos discursos (apolíticos) das eleições atuais. Primeiramente, gostaríamos de apresentar as características de um discurso NÃO político e os males que o uso do mesmo pode causar para uma nação. Em seguida,  demonstraremos o que de fato sustenta um discurso verdadeiramente político.
     Para começo de conversa, precisamos esclarecer que um discurso político não pode ser: único, imutável, absoluto e universal. Não é único porque é dialógico, ou seja, não se trata de um monólogo e sim de produção de ideias e, por conseguinte, diálogo. Não é imutável porque é opinião e sendo assim, sofre alterações. Não é absoluto porque é múltiplo, isto é, relativo. Não é universal porque é particular, ou seja, não há um discurso que manifeste o interesse de todos.
       Com relação aos males produzidos por tais discursos, basta uma breve análise sobre a nossa história. Vamos lá então, quando Hitler fez do programa a "solução final" (programa que resultou na morte de milhões de pessoas) um projeto de lei aprovado e sancionado, isto é, constitucionalmente aceito, utilizou-se de um discurso apolítico, embora servindo para uma intenção política. Nesse programa que fora feito por intelectuais (doutos) alemães, estava as premissas científicas que projetavam a superioridade da raça ariana (alemã). Os argumentos pautavam-se no evolucionismo e no processo de seleção das espécies. Assim, orientado por argumentos "científicos", Hitler convenceu sua nação e colocou em prática seu plano. 
        Ora, qual lição podemos extrair desse fato? Vejamos, ao forjar um discurso político embasado em argumentos científicos, Hitler retirou todas as características políticas que poderiam existir no próprio discurso. De fato, o fundamento de suas ideias estava na ciência e esta por sua vez, atribuiu ao seu discurso elementos absolutos e universais. Em outras palavras, a ciência consegue legitimar suas regras quando estas possuem caráter de universalidade, ou seja, sejam válidas para todos. Sendo assim, um discurso que se repousa na ciência deve consequentemente, ser absoluto e universal.
        Por ser de caráter absoluto e universal, o discurso de Hitler não se sustentou como político, e por não ser político impossibilitou o diálogo e a expressão de ideias opostas, e por impossibilitar o diálogo resultou no que todos nós infelizmente assistimos: auschwitz e seus milhões de Judeus, Negros, Deficientes e Comunistas mortos. Contudo, o nazismo não foi o único exemplo em que o discurso político foi forjado por intenções de ordem científica. Na África do Sul, um regime de segregação racial conhecido como Apartheid representou novamente a deturpação da política por mecanismos que se diziam universais e absolutos.
 O parlamento africano, repousando nos argumentos científicos (seleção das espécies), considerou a integração uma "perda de personalidade" para todos os grupos raciais. Sendo assim, achou oportuno separar (isolar) tais grupos sustentando uma política de discriminação racial. Tomamos como exemplo de tal doutrina, o manifesto eleitoral do Partido Nacional:
       
        "A política da segregação racial se baseia nos princípios cristãos do que é justo e razoável. Seu objetivo é a manutenção e a proteção da população européia do país como uma raça branca pura e a manutenção e a proteção dos grupos raciais indígenas como comunidades separadas em suas próprias áreas (...) Ou seguimos o curso da igualdade, o que no final significará o suicídio da raça branca, ou tomamos o curso da segregação".

        Como já observamos um discurso político em hipótese alguma pode ser sustentado por premissas universais. Se incorrermos nesse erro estaremos eliminando qualquer chance do debate, da troca de opiniões e da construção do coletivo. E ainda, sustentaríamos uma política cuja consequências seríamos incapazes de avaliar.
        Gostaríamos ainda de trazer para a nossa análise uma outra questão que sem dúvida, colaborará para um melhor entendimento da problemática aqui apresentada. Trata-se da inserção do discurso religioso nas campanhas eleitorais, isto é, a apropriação da religião nos temas políticos, debates e mesmo na propaganda eleitoral. Tamanha é a confusão que isso tem gerado que é permitido pensar se o discurso religioso também poderia ser um discurso político. 
        Para responder essa questão precisaremos antes analisar quais são os fundamentos do discurso religioso. Primeiramente, devemos esclarecer que o discurso apresentado pela religião descansa em princípios absolutos e universais como, por exemplo, a existência divina e a verdade revelada pelo livro de representação do sagrado, a Bíblia.
            Em certa medida, o discurso religioso cumpre com um papel fundamental para a vida coletiva, projetando valores morais capazes de garantir a harmonia entre os homens. Todavia, esse discurso se projeta para a vida espiritual e seu fundamento repousa em um plano transcendente, ao contrário, da vida política que se insere num debate mundano e passageiro.
            Dessa forma, podemos dizer que, o discurso proferido pela religião é distinto do político e ainda, possui intenções diferentes deste. Contudo, se um Estado queira fundamentar sua constituição em bases religiosas terá que responder as seguintes questões: Quem pode legislar em nome deste Estado? Qual grupo ou entidade política tem o direito de governar? E outras questões surgem destas, por exemplo, qual o direito reservado para um ateu? Como o Estado deve-se comportar em relação a estas pessoas? Deve puni-lo, extirpá-lo, retirá-lo do Estado?
            Sem dúvida, um discurso religioso não pode ser o fundamento do discurso político, pois como o científico, o religioso é essencialmente universal. E todo discurso universal nega a multiplicidade de vozes e opiniões, se instaurando como Imperialista e totalitário. De fato, basta analisar a Idade Média e os danos causados pela interferência religiosa no campo político.
            Mas afinal, qual é o fundamento do discurso político? Sem mais delongas, podemos dizer que são atributos necessários do discurso, a Pluralidade, contingência e particularidade. Um discurso político é sempre mediado pelas inúmeras vozes que existem na sociedade (sindicatos, movimentos religiosos, políticos, sociais e ambientais, ONGs, enfim, interesses individuais e de grupos). Vale lembrar que sua sustentação está na possibilidade do diálogo.
          O diálogo que constrói tal discurso se embasa no processo dialético, isto é, no embate de ideias opostas capazes de construir um consenso (síntese). Eis a grande diferença desse discurso, ao contrário do científico, religioso ou mesmo de uma elite (aristocratas) que apresentam uma verdade anterior ao próprio discurso, o político por sua vez, constrói a verdade, ou seja, esta última é resultado de debates e reflexões. Todavia, a verdade produzida pelo discurso político não se sustenta como absoluta como, por exemplo, a verdade religiosa (dogmas). A verdade da argumentação política é contingente, capaz de ser reformulada, repensada e reconstruída.


Por:  Maicon Fortunato

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O reality show dos mineiros



        A modernidade fez questão de construir uma nova essência para o homem. Diferentemente dos gregos antigos, que pensavam o ser humano como um animal social e inerente a Pólis (cidade), os teóricos do período pós-renascentista atribuíram uma concepção "negativa" para a natureza humana. Sob esta ótica, o homem aparece como individualista, competitivo, intolerante e acima de tudo egoísta. Os contratualistas (pensadores dos séculos XVI a XVIII) projetaram o Estado como o único instrumento capaz de conter essas divergências entre os indivíduos retirando-os assim, de um possível estado de guerra. 
         A famosa frase tomada por Hobbes: O homem é o lobo do homem (Homo homini lupus) expressa claramente esse sentido de desafeto que a humanidade passou a assumir e que se cristalizou com o advento do capitalismo. Hoje, não é preciso ir longe para se reconhecer a veracidade dessas afirmações, basta olhar a violência desenfreada, a corrupção das instituições, o  tráfico que assola nossos lares e outros inúmeros exemplos que desvela a assombrosa realidade.
     Contudo, um acontecimento, em particular, levantou algumas controvérsias a respeito dessas questões.  Trata-se da  dramática história envolvendo 33 mineiros que ficaram presos após o desabamento da mina onde se encontravam. Desrespeitando todas as afirmações sobre uma suposta essência egoísta do homem, os bravos mineiros se uniram durante 69 dias em prol de um bem comum, o direito à vida. 
           Muito diferente dos famosos reality shows em que  pessoas bem nutridas e usufruindo das melhores condições possíveis se digladiam por um prêmio milionário, o reality show dos mineiros carecia de banho, alimentação e conforto. Não havia sensacionalismo, nem "popozudas" se exibindo para as câmeras,  os mineiros estavam sós e pareciam ceder para o fracasso. 
       Todavia, ao invés de um final trágico, a "saga" dos mineiros chegou ao fim de maneira apoteótica. Numa espécie de catarse, o reality show purificou a alma de inúmeros espectadores, além disso, soou como uma lição de moral para os programas triviais que circulam por ai (A fazenda, BBB, coisas do gênero). E ainda, permitiu repensar os valores que sustentam as "relações sociais" e por conseguinte, o que de fato é essencial para a vida.
        O essencial não se constrói por meio de elementos superficiais, como acraditavam os contratualistas, ou seja, não é o direito à propriedade e a preservação da mesma que fundamenta as relações entre os sujeitos. Ao contrário, é a própria necessidade da inter-relação imanente à natureza humana que projeta o homem para a vida social. Assim, dizer que o homem é egoísta significa sustentar uma essência pautada na superficialidade. Longe disso, o ser humano se realiza enquanto tal, quando é capaz de projetar em si o sentido próprio da humanidade. 
          Vale lembrar que, os mineiros deram um bom exemplo de como isso é possível.
Maicon J. Fortunato

PV (que o Serra bajula) é a favor do aborto, da maconha e do casamento gay


Está no site do Partido Verde para qualquer um ver. Está registrado no TSE. É o programa do PV, aprovado em sua Convenção Nacional por maioria absoluta de votos e sem contestação.


A atual campanha presidencial está sendo pautada pelo falso moralismo e a hipocrisia, em que temas como aborto, casamento gay e outras questões polêmicas têm sido exploradas de forma irresponsável e sendo alvo de manipulação através de impressionante guerrilha virtual comandada pelos apoiadores de José Serra na internet. Dilma Rousseff, a candidata de Lula e de mais de 47 milhões de brasileiros foi acusada de forma vil e mentirosa aqui na internet de querer legalizar o aborto, censurar a imprensa, fechar igrejas evangélicas e outras ignomínias.

Hoje José Serra está lutando para atrair o PV para que o apóie. A imprensa já noticiou que Serra ofereceu, em uma barganha condenável e torpe, quatro ministérios para que o Partido Verde participe de sua campanha. Então é preciso que os brasileiros saibam um pouco mais sobre o PV, esse partido-de-conveniência, onde Marina Silva, depois de 30 anos no PT, encontrou guarida; esse ajuntamento político que apóia todos os governos estaduais em troca de cargos. Em São Paulo estão com o PSDB e participam do governo. No Paraná estão com o PMDB e participam do governo. Em Minas Gerais abocanharam o seu quinhão fisiológico no governo de Aécio Neves e continuaram agarrados ao osso no de Antônio Anastasia. Hay gobierno? O PV está lá!

Em uma rápida pesquisa pelo programa de governo do Partido Verde, percebe-se que quem é favorável a pontos polêmicos é o partido de Fernando Gabeira. Entre eles, a legalização do aborto, a legalização da maconha, a diminuição da maioridade penal para 16 anos, o controle externo da mídia, a legalização do casamento gay e da prostituição, a entrega da Amazônia aos estrangeiros, o aumento dos impostos e muito, muito mais!

Contra fatos não há argumentos. Abaixo você se defrontará com a verdade mais cristalina, expressa no programa do PV, estampado no site dos verdes na internet (link):

* Entrega da Amazônia aos estrangeiros

O programa do partido é bem claro. No capítulo “Economia Verde para uma Vida Melhor”, exatamente no item 4, o partido diz:

“Os verdes não fazem uma distinção maniqueísta entre investimentos nacionais e estrangeiros. Preferem tomar como critério as implicações e conseqüências sociais e ecológicas desses investimentos…”

Na prática, significa a entrega da Amazônia, o pulmão do mundo e uma das maiores riquezas do Brasil e de seu povo, com seus biomas naturais, diversidade ecológica, fauna e flora, à empresas estrangeiras. Significa BIOPIRATARIA. Aquele falso email de alguns anos atrás, que mostra um mapa da Amazônia como “região internacional” pode se tornar realidade se o PV for para o governo e colocar em prática o seu programa.

* Controle Social da Mídia

Quando o PT propõe controle externo dos meios de comunicação, a mídia tucana grita e o acusa de CENSURA! E quando o PV faz isso, chamamos do quê? É o que consta no programa do partido, item C do capítulo ”Cultura e Comunicação”:

“democratizar e descentralizar os meios de comunicação de massa permitindo o acesso dos cidadãos a rádios e TVs livres procurando propiciar uma situação onde muitos cidadãos possam se dirigir a outros cidadãos.”

* Legalização da prostituição do casamento gay

Ainda no mesmo capítulo 4 do programa do PV, o ítem I é o mais polêmico de todos: abre espaço para a legalização do casamento gay e prostituição enquanto profissão. Vamos ao texto:

“ defender a liberdade sexual, no direito do cidadão dispor do seu próprio corpo e na noção de que qualquer maneira de amor é válida e respeitável”

* Desestímulo a pesquisas científicas com células-tronco

No capítulo 7 – “Reprodução Humana e Cidadania”, o PV desestimula pesquisas genéticas com células-tronco e reprodução in vitro, enterrando o sonho de milhares de famílias que almejam ter filhos e não conseguem por meios naturais ou de milhões de seres humanos que sofrem de enfermidades como a cegueira, esclerose múltipla ou a distrofia muscular. É o mesmo posicionamento ridículo e medieval de George W. Bush, que o presidente Barack Obama já baniu da agenda norte-americana, incentivando a ciência e a luta por seus avanços na pesquisa e na cura. É o item D:

“a fiscalização rigorosa das práticas de manipulação genética e inseminação artificial…”

* Legalização do aborto

O mais polêmico dos pontos também se encontra em “Reprodução Humana e Cidadania”, do programa do PV. O texto não deixa dúvidas quanto ao desejo do partido em legalizar o aborto, tema tão combatido tanto por Marina Silva (ex-candidata do próprio PV…) quanto por Dilma Rousseff (hoje Serra se diz contra, mas no senado apoiou o projeto de lei 78/1993 que o legalizava):

“a legalização da interrupção voluntária da gravidez com um esforço permanente para e redução…”

* Redução da maioridade penal para 16 anos

No capítulo 8 – “Justiça e Segurança”, o PV é demasiadamente retrógrado ao tentar resolver todos os problemas da violência com a redução da maioridade penal. Está lá no item C:

“redução da idade de responsabilidade penal para 16 (dezesseis) anos, nos casos de crime contra a vida e a  integridade física”

* Legalização do Jogo do Bicho

O PV é duro contra os menores infratores, mas resolve premiar os contraventores do Jogo do Bicho com a legalização das atividades. Seria um agradecimento aos bicheiros cariocas que encheram as burras de campanhas do ex-Gabeira? Ainda estamos no capítulo ”Justiça e Segurança”, mas agora é o item E:

“a descriminalização das atividades como os jogos de azar e o jogo do bicho, cuja ilegalidade, além de inócua, termina por estimular crimes muito mais graves como a corrupção passiva e a extorsão policial”

* A legalização da maconha

O PV, apesar do atual discurso moralista de sua ex-candidata e de seus dirigentes, é bem claro quanto ao assunto. No item 4 do capítulo “Justiça e Segurança”, os verdes defendem a legalização da ‘canabis sativa’ :
“O PV propõe:

a) Uma nova Lei de Entorpecentes, legalizando o uso da Canabis Sativa para fins industriais, médicos e pessoais, descriminalizando o uso de drogas, que passa a ser encarado, em situações de dependência de drogas pesadas, como um problema de saúde e não de repressão e prisão”

O PV quer ainda o “uso controlado pelo Estado” da maconha. A corrupção atingirá níveis alarmantes, pois os dependentes farão de tudo para conseguir as drogas.

* O aumento de impostos

Para “financiar a ecologia”, o PV quer, no capítulo 10 sobre “Energia”, o aumento de impostos. No item 4A, o partido é claro:

“a instituição de uma taxa ambiental de 1% sobre combustíveis fósseis para financiar programas de despoluição”.
Na prática, este imposto verde do PV é muito mais danoso para a economia que a extinta CPMF. Tributar em 1% os combustíveis fósseis, em outras palavras,  a gasolina, significa encarecer toda a cadeia produtiva, uma vez que a maior parte das mercadorias brasileiras circula por caminhões no território nacional. Além de todos os demais desatinos, o partido-de-conveniência, é um voraz adepto da condenável prática do aumento de impostos, taxas e tributos!

* Enfraquecimento da Petrobras

Ainda no assunto sobre a energia, o PV comete brutal equívoco (pregam a auto-suficiência quando o Brasil faz anos já é auto-suficiente) ou um crime de lesa-pátria ao revestirem-se de pensamentos tucanos e, literalmente, tentar acabar com a Petrobrás, a maior empresa do Brasil, segunda maior empresa de energia do mundo e uma das maiores empresas do planeta. Os verdes, apenas e tão somente, querem quebrar a espinha dorsal do maior patrimônio material dos brasileiros às vésperas do início da exploração do Pré-Sal! Está lá, no item B:

“a busca de auto-suficiência na produção de petróleo através da flexibilização do monopólio da Petrobras…”

* Dar poder de polícia aos seringueiros

No capítulo 11,  ”Política Nacional de Meio Ambiente e Grandes Ecossistemas”, em seu item 2F, o PV quer dar poder de polícia aos seringueiros. Seria o mesmo que investir o MST ou a UDR de faculdades legais que lhes permitissem portar armas, deter pessoas, invadir propriedades e se constituirem em milícias particulares à margem da lei e, paradoxalmente, protegidos e regulamentados pela União! Trata-se de uma excrescência. Vejam:

“a criação de uma guarda florestal voluntária, constituída de seringueiros…”

* Suspender investimentos em Carajás

Ainda na Política Nacional de Meio Ambiente, o item F propõe suspender investimentos de siderúrgicas em Carajás – nossa extraordinária reserva mineral localizada no coração do Estado do Pará - acabando com milhares de empregos na região, subtraindo bilhões em impostos dos cofres públicos, com a utilização de desculpa esfarrapada simplesmente por não ter idéia do que se fazer com o problema da poluição ou competência para apresentar uma solução viável:

“a suspensão de projetos de siderúrgicas de ferro-gusa do programa Grande Carajás, alimentadas a carvão vegetal até que seja encontrada uma solução que minimize seus impactos ambientais”

Marina Silva disputou a presidência da República por um partido que prega a legalização do aborto, do casamento gay, da prostituição, da maconha e do jogo-do-bicho, além de propor a criação de milícias, o fim da Petrobrás e de Carajás, a redução da maioridade penal, o controle externo da mídia e condena os avanços da ciência e da humanidade, ao pregar a proibição das pesquisas com células-tronco.

Os brasileiros precisam saber mais sobre o PV e seu programa liberticida.


terça-feira, 12 de outubro de 2010

A SOMA



Inspirado na obra de Aldous Huxley: "Brave New World".


"Poderia existir uma melhor época para estar vivo? E todo o mundo dissesse obrigado... pela Soma" (Brave New World)




          O que é a realidade? O que é o certo ou o moralmente correto? O que é a verdade? Existe alguma verdade ou ela é construída socialmente? Qual a essência humana? Existe um ideal de vida? Perguntas e mais perguntas... Quando as levo ao extremo sinto uma sensação de desconforto no estômago e uma  vontade urgente de vomitar, chamam isso de náusea. Então levanto-me da cama e repouso meu olhar no espelho e ali fico, estático procurando um sentido, uma resposta. Nessa viagem psicodélica percorro infinitos caminhos que vão dos desejos sórdidos aos mais obscuros sentimentos. De repente recobro o sentido e percebo que aquele rosto mórbido, descorado e sem vida é o meu. Sem mais tempo para devaneios me apronto para a vida.
        La fora todos são iguais, políticos, mendigos, meretrizes, padres, professores, doutores e ladrões. Todos à procura da felicidade e eu me somo a estes seres que nos calçadões, translados e chão de fábricas rezam a mesma oração: "Trabalhar para comprar, o trabalho é divertido, trabalhar para comprar. O que mais deseja comprar? Novas coisas. Odeio as coisas velhas, quero coisas novas. Comprar é melhor do que consertar, se quebrar, não conserte. Trabalhe bastante, pois fará de você uma pessoa melhor. Sustente as rodas sociais e quando seu trabalho estiver feito terá uma boa vida, terá dinheiro e todo mundo será agradecido. O trabalho é divertido, trabalhar para comprar..."
              Tudo parece muito certinho, uma sociedade perfeitamente equilibrada,   cada pessoa é importante desde que, execute bem suas obrigações. Os homens "bons" dizem o que deve ser feito e então é só agir. O que você quer ser? Os     modelos já estão prontos procure se enquadrar, assim, não é preciso pensar, pois pensar  é entediante e exige tempo. Gaste seu tempo com coisas úteis, trabalhando e comprando, deixe a marcha prosseguir sem um "porquê".
             Sufocado por essa massificação, procuro um refúgio, um lugar que possa me acalentar, mas percebo que é em vão. Para onde olho vejo a SOMA: nos ideais políticos, religiosos e sociais. Ouso um grito de independência porém, não consigo angariar aliados pois estão confortavelmente entorpecidos e jamais serão despertos desse sono dogmático. Sem esperanças,  entrego os pontos por não reconhecer nem em mim mesmo uma alternativa viável. Sob tais condições, atiro-me no abismo da solidão e em minha própria SOMA. Lamento, mas devo confessar que este seja o fim.
              
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