terça-feira, 8 de março de 2011

Desmistificando a Política


"A verdade é socialmente construída, a mentira também!" (August Ramon - in: Isolamento, 2011).




O MITO DA POLÍTICA


Há no imaginário popular um saber vulgar que persiste em valorizar a política como uma atividade essencial para a vida. Esse ideal caracteriza o mito da política e tem como função garantir a permanência dessa prática. A coisa funciona mais ou menos assim, apesar da população estar de "saco cheio" de toda parafernália produzida pelo sistema político e ainda, ciente que nenhum político pode ser levado a sério, renova-se a cada quatro anos uma vã esperança de que "a coisa vai pra frente". É um espírito juvenil, uma espécie de ilusão de óptica que inflama a alma popular e dissolve todas as mazelas produzidas durante décadas e décadas de regimes políticos mal sucedidos. Porém, depois da ventania "eleitoral"  vem a tempestade, as promessas não são cumpridas, os problemas permanecem e a almejada bonança não passou de um discurso falacioso. Mas não tem problema, depois de quatro anos o espírito se rejuvenesce e volta à tona o mito da Política.
É como se as pessoas agissem sem saber o que fazem, como fazem e por que fazem, ou seja, é quase irracional.


O MITO DO VOTO CONSCIENTE

O que significa estar consciente?  Diz-se que a consciência é uma faculdade da alma (razão, intelecto) enquanto uma capacidade subjetiva (eu) de perceber e compreender a si mesmo (eu novamente) e sua relação com o ambiente. Estar consciente resume-se na possibilidade de saber quem realmente somos e qual a nossa interação com o meio em que vivemos. Desse modo, a consciência implica necessariamente em ter uma vontade autônoma, isto é, ser capaz de escolher e julgar segundo a própria vontade (Senhor da sua causa).
Mas e o voto consciente? A grosso modo, o voto consciente é a capacidade SUBJETIVA de escolha sobre um representante ou representações políticas, feita obviamente por uma decisão criteriosa e racional.
O fato é que no Brasil existem 12, 295 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples, isto sem levar em consideração os analfabetos funcionais, o que tornaria os números mais alarmantes, cerca de 33 milhões de pessoas**.
Enfim, o mito do voto consciente consiste em dar credibilidade ao eleitorado que manipulado, seja pela falta de acesso a educação, seja pela investida de empresas e partidos que gastam milhões em Marketing a fim de vender seu candidato, seja pela despolitização da nossa sociedade.
O engodo do voto consciente é mais uma maneira de maquiar as rédeas que prendem nossa população.


O MITO DO POLÍTICO JOVEM

Outro argumento falacioso que a imprensa veicula é o do político jovem, a ideia é a seguinte: a política tem solução, desde que, se coloque pessoas  "novas/jovens" para governar. 
Deixe-me ver se compreendi direito, acredita-se piamente de que o problema da estrutura política seja um problema de faixa etária? Os políticos atuais estão velhos demais para governar?
Obviamente que isso é ilógico!
Para pensar melhor esta questão, tomemos um trecho do Menestrel (Shakespeare):


"Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou".

Atribuir valor pelas experiências vividas parece-me digno, mas pela idade, um tanto quanto apelativo. Afinal, a idade pouco interfere na hombridade do sujeito. Poderei encontrar um homem de idade avançada, mas de um espírito imensamente inovador e de um conhecimento político inigualável. Ao passo que, me deparo constantemente com jovens   cuja mente mais parece uma folha em branco, sem perspectivas e objetivos. São como diria o bom e velho Marx, jovens com espíritos "velhos". 
Enfim, o mito do jovem político é um sofismo que procura promover aqueles que ainda não se beneficiaram com as regalias do mundo político.


O MITO DA FICHA LIMPA


Outro argumento que também incorre em erro é aquele que se relaciona com a ausência de valores éticos na política. O mito da ficha limpa consiste em dar credibilidade a afirmação de que a política é ruim porque os políticos são corruptos, sendo assim, é preciso "varrer toda sujeira" e colocar representantes com valores éticos. 
De fato, a ideia é boa, se e somente se, a coisa toda que compõe a estrutura política tivesse funcionando direito, ou seja, se as bases (fundamentos) fossem sólidas, o que não é.
Assim, não adianta alterar os personagens, colocar no cenário figuras ilustres: religiosos, professores, administradores, engenheiros, meretrizes, jogadores de futebol e até mesmo palhaços de circo. O fato é que o sistema é corrupto e todos que se relacionam com ele se tornam, direto ou indiretamente, corruptos. 
O mito da ficha limpa acende uma vã esperança, mas o tempo, infelizmente, se encarregará de apagá-la. 


Por: Maicon Fortunato

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