quinta-feira, 31 de março de 2011

A recolonização em curso


A recolonização em curso

Os levantes populares em todo o Oriente Médio e Norte da África parecem longe do fim. No Iêmen, graves conflitos de rua transcorrem desde a semana passada. Na Síria, o presidente Bashar Assad anunciou a libertação de centenas de presos políticos, além do recuo de policiais e soldados de uma cidade rebelde do sul do país, para tentar acalmar a população. Na Jordânia, violentos confrontos ocorridos em Amã, entre opositores e as forças de segurança, acabaram com um morto e mais de 130 feridos.
A sensação de instabilidade é total. Como observamos em outros editoriais, os conflitos têm uma solução difícil de ser equacionada. Em toda a região, regimes ditatoriais, mais ou menos aliados ao grande capital internacional, vêm tendo sua autoridade questionada pelos levantes populares, que, por sua vez, são, em sua grande maioria, espontâneos, sem uma direção revolucionária socialista ou até mesmo democrático-burguesa clara, amarrados por elementos pré-capitalistas (como o fundamentalismo religioso).
A ação imperialista sobre a Líbia atesta a preocupação de setores do grande capital internacional com o caos instaurado na região. A Líbia está sendo vista como uma porta de entrada do imperialismo para instaurar, se necessário, um controle militar e político direto no norte da África e Oriente Médio. A preocupação central, sem dúvida, gira em torno das reservas de petróleo abrigadas na região.
A intervenção das potências visa garantir o abastecimento do petróleo, sem interrupção, e a transição política desses regimes para outros igualmente submissos aos seus interesses. Por outro lado, a ofensiva imperialista é também um grande negócio, mesmo do ponto de vista estritamente econômico.
Se lembrarmos que a força motriz desses levantes foi o impacto da crise econômica mundial, as palavras de Marx, no Manifesto, são bastante esclarecedoras. "De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises?", pergunta Marx, para responder logo em seguida, "pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas". Ora, a destruição de forças produtivas é a essência da indústria bélica e da ação das potências sobre a Líbia, cuja ofensiva não apenas destrói alvos militares como importantes obras de infra-estrutura urbana e produtiva.
Os números são assustadores. Segundo apurou a revista National Journal, somente no primeiro dia de ataques dos EUA contra a Líbia, estima-se em US$ 100 milhões os gastos norte-americanos. Se forem incluídos os gastos operacionais envolvidos, o montante poderia chegar a US$ 1 bilhão. O custo "dos períodos iniciais" do ataque por parte das forças da coalizão poderiam oscilar entre US$ 400 milhões e US$ 800 milhões, indicou um relatório do Centro para Avaliações Estratégicas e Orçamentárias, citado pela revista em sua edição digital.
Esse montante de capital "destruído" por meio de mísseis e bombas, na verdade, revela-se como uma eficiente alavanca de acumulação para as potências envolvidas. Como reconhecem até mesmo analistas burgueses, a ação do governo Obama, que fere o seu discurso pacifista de campanha, é interessante para tirar a economia norte-americana da recessão.
Complementar à destruição de forças produtivas, a burguesia vence os períodos de crise, diz ainda Marx, com a "conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos". Eis aí outro aspecto da ofensiva militar na Líbia e, em todas as demais invasões imperialistas recentes, vide o caso do Iraque.
Portanto, diante de um quadro de profundas contradições no Oriente Médio e Norte da África, oriundo de uma crise global do capitalismo, que afeta desde a região dos conflitos até as potências imperialistas, a guerra seguida de um processo de "conquista de novos mercados" - em outras palavras, seguida de um processo de recolonização branca - é a única saída que o grande capital pode apresentar. Mas, como conclui Marx, tal processo leva "ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las".

domingo, 27 de março de 2011

CAMBALACHE


Que o mundo foi e será uma porcaria eu já sei
Em 506 e em 2000 também
Que sempre houve ladrões, maquiavélicos e safados
Contentes e frustrados, valores, confusão
Mas que o século xx é uma praga de maldade e lixo
Já não há quem negue
Vivemos atolados na lameira
E no mesmo lodo todos manuseados
Hoje em dia dá no mesmo ser direito que traidor
Ignorante, sábio, besta, pretensioso, afanador
Tudo é igual, nada é melhor
É o mesmo um burro que um bom professor
Sem diferir, é sim senhor
Tanto no norte ou como no sul
Se um vive na impostura e outro afana em sua
Ambição
Dá no mesmo que seja padre, carvoeiro, rei de paus
Cara dura ou senador
Que falta de respeito, que afronta pra razão
Qualquer um é senhor, qualquer um é ladrão
Misturam-se beethoven, ringo star e napoleão
Pio ix e d. joão, john lennon e san martin
Como igual na frente da vitrine
Esses bagunceiros se misturam à vida
Feridos por um sabre já sem ponta
Por chorar a bíblia junto ao aquecedor

Século xx "cambalache", problemático e febril
O que não chora não mama
Quem não rouba é um imbecil
Já não dá mais, força que dá
Que lá no inferno nos vamos encontrar
Não penses mais, senta-te ao lado
Que a ninguém mais importa se nasceste honrado

Se é o mesmo que trabalha noite e dia como um boi
Se é o que vive na fartura, se é o que mata, se é o
Que cura
Ou mesmo fora-da-lei


Raul  Seixas
Composição : Enrique Santos Discépolo

sexta-feira, 25 de março de 2011

Quando dois mundos que se cruzam - Uma análise das revoltas atuais por Chomsky


Por Noam Chomsky, Noam Chomsky’s ZSpace Page | Tradução Sofia Gomes,Esquerda.net
No dia 20 de Fevereiro, Kamal Abbas, líder sindical egípcio e figura proeminente do movimento 25 de Janeiro, enviou uma mensagem aos “trabalhadores do Wisconsin”: “Estamos com vocês, da mesma forma que estiveram connosco.” Os trabalhadores egípcios lutam há muito pelos direitos fundamentais negados pelo regime de Mubarak, apoiado pelos EUA. Kamal tem razão ao invocar a solidariedade que desde sempre tem sido a força por detrás do movimento mundial dos trabalhadores, e ao comparar ambas as lutas. Elas estão intimamente ligadas.
No entanto, as trajetórias das lutas dos trabalhadores no Egito e nos EUA apontam atualmente para direções opostas: conquista de direitos no Egipto; enorme ataque a eles nos EUA. Os dois casos merecem grande atenção.
A revolta do 25 de Janeiro foi desencadeada, no Facebook, por jovens astutos ligados ao movimento 6 de Abril, que surgiu na primavera nórdica de 2008 em “solidariedade com a greve dos trabalhadores de Mahalla”, declara a analista Nada Matta. A violência do Estado esmagou a greve e as ações de solidariedade, mas Mahalla era “o símbolo da revolta e da mudança de regime”, acrescenta ela. A greve tornou-se particularmente ameaçadora para a ditadura quando as exigências dos trabalhadores estenderam-se para além das preocupações setoriais de um salário mínimo para todos os egípcios.
Os comentários de Matta são confirmados por Joel Beinin, uma autoridade norte-americana nos assuntos trabalhistas do Egito. Depois de muito anos de luta, diz Benin, os trabalhadores estabeleceram laços e conseguiram mobilizar-se prontamente. Quando os trabalhadores se juntaram ao movimento do 25 de Janeiro, o impacto foi decisivo e o comando militar mandou Mubarak embora. Foi uma grande vitória para o movimento democrático egípcio, embora permaneçam muitas barreiras, internas e externas.
A barreiras externas são claras. Os EUA e os seus aliados não conseguem tolerar uma democracia que funcione no mundo árabe.
Para provar isto, vejam-se as sondagens da opinião pública do Egito e todo o Médio Oriente. Por largas maiorias, o público vê os EUA e Israel — não o Irã — como as maiores ameaças. Na verdade, a maior parte pensa que a região estaria melhor se o Irã tivesse armas nucleares.
Podemos antecipar que Washington vai manter a sua política tradicional: democracia é tolerável apenas quando é adequada aos objetivos. A fábula norte-americana do “anseio pela democracia” está reservada a ideólogos e à propaganda. A democracia nos EUA tomou um rumo diferente. Depois da 2ª Guerra Mundial, o país gozou de um crescimento sem precedentes, em grande medida igualitário e acompanhado de legislação que beneficiava quase toda a população. Isto continuou durante os anos de Nixon e só acabou com a era liberal.
A reação contra o impacto democrático do ativismo dos anos 60 e da traição de classe de Nixon não tardou: um incrível crescimento do lobbie para alterar a legislação, estabelecer centros de opinião de direita para capturar a opinião pública, e muitas outras medidas.
A economia também mudou para um rápida financeirização e deslocalizações de produção. A desigualdade alastrou-se, primeiro devido à exponencial fortuna de 1% da população – ou uma fração ainda menor, em grande parte limitada a diretores executivos, gestores de fundos financeiros e outras funções similares.
Para a maioria, o salário real estagnou. Muitos decidiram trabalhar mais horas, recorreram à dívida e à inflação de bens. Depois surgiu a bolha imobiliária de 8 trilhões de dólares, que o Banco Central e a maioria dos economistas não previu, pois estavam em transe com os dogmas da eficiência dos mercados. Quando a bolha rebentou, a economia entrou em colapso, quase atingindo níveis da Grande Depressão para os trabalhadores industriais e muitos outros.
A concentração de riqueza confere poder político — que, por sua vez, conduz a legislação ainda mais favorável aos super-ricos. Redução de impostos, desregulação, normas de gestão empresarial e outras.
Ao longo deste ciclo vicioso, os custos da campanha aumentaram fortemente, conduzindo ambos os partidos a ir atrás do setor empresarial – os Republicanos, como de costume; os Democratas (que agora são muito similares ao Republicanos moderados de anos anteriores) seguiram de perto.
Em 1978, à medida que o processo se iniciava, o presidente do sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística – United Auto Workers – Doug Fraser, condenou os líderes das empresas por terem “escolhido iniciar uma guerra de classes neste país – uma guerra contra os trabalhadores, os desempregados, os pobres, as minorias, os jovens e os velhos, e mesmo muitos da nossa classe média,” e terem também “quebrado e ignorado o acordo tácito que existiu antes durante um período de progresso e crescimento.”
À medida que a classe trabalhadora ganhava direitos nos anos 1930, os líderes empresariais avisaram contra “o perigo que os industriais enfrentavam perante o surgimento do poder político das massas,” e apelaram a medidas urgentes para rebater a ameaça, de acordo com o que diz o intelectual Alex Carey em “Taking the Risk Out of Democracy”. Compreenderam tão bem como Mubarak que os sindicatos são uma força indispensável na conquista de direitos e da democracia. Nos EUA, os sindicatos são uma contra-força à tirania corporativa.
Mas agora, os sindicatos do setor privado foram severamente enfraquecidos. Os sindicatos do setor público têm sofrido ataque da direita que explora cinicamente a crise econêmica causada, em primeiro lugar, pela indústria financeira e os seus associados no governo.
A raiva popular tem de ser desviada dos agentes da crise financeira que ganham com isso. Por exemplo, o Goldman Sachs “acabou de pagar 17,5 bilhões de dólares em recompensas aos executivos no ano passado,” diz a imprensa financeira. Só o diretor executivo, Lloyd Blankfein recebeu um bônus de US$ 12,6 milhões, enquanto seu salário-base anual triplicou para 2 milhões.
Em vez disto, a propaganda culpa os professores e outros trabalhadores da função pública pelos seus “grandes” salários e pensões “exorbitantes” – tudo uma fabricação, uma cópia de um modelo demasiado familiar. Para o governador do Wisconsin, Scott Walker, para outros Republicanos e muitos Democratas, o slogan é que a austeridade deve ser partilhada – com algumas exceções…
A propaganda tem sido eficiente. Walker poderá pelo menos contar uma boa minoria para apoiar o seu esforço de destruir os sindicatos. Invocar o déficit como uma desculpa é pura farsa. De formas diferentes, o destino da democracia está em jogo tanto em Madison como na Praça Tahrir.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Os desafios da reforma política


Por Marilza de Melo Foucher
O atual sistema partidário brasileiro não é compatível com a nova república democrática brasileira. Muitos partidos foram implantados no período de crise da ditadura e de transição para a democracia. Muitos surgiram sem fundamentos ideológicos. Infelizmente, nenhum governo pós-ditadura pôde elaborar um projeto de reforma política, muitas vezes por falta de maioria e outras vezes por falta de vontade política. Todavia, a democracia brasileira já esperou tempo demais. A nova Presidenta do Brasil Dilma Rousseff insistiu durante sua campanha sobre a urgência desta reforma e é provável que o tema continue sendo uma prioridade em seu governo.
Hoje, temos aberrações que permitem toda deriva republicana. Atualmente segundo o Tribunal Superior Eleitoral existem registros de 27 partidos! Muitos não têm nenhuma base filosófica e política: são legendas de aluguel. É a nociva prática do “é dando que se recebe” — e o pior é que esses políticos contribuem para a permanência do vírus maléfico da corrupção política. Impunemente, eles abusam do poder político para nomeações de afiliados, usam do apadrinhamento na distribuição de cargos. Estes políticos fisiológicos defendem interesses paroquiais em detrimento do interesse nacional. Para eles, tudo isto é normal. Eles sempre repetem: “faz parte do jogo político”!
Em razão desta realidade, só uma boa reforma do sistema político pode provocar um choque de seriedade junto à opinião pública. Ela contribuirá sem dúvidas na melhora da imagem do Parlamento brasileiro, hoje completamente deteriorada.
Além disso, a pulverização do sistema partidário no Brasil dificulta a formação de maiorias nas assembléias estaduais e no Congresso Nacional. Impossível, dentro do atual sistema, travar uma discussão séria sobre a fidelidade partidária. Quem sabe, as listas fechadas partidárias sejam o melhor caminho.
Não devemos esquecer que temos nossa parte de responsabilidade em certos desvios republicanos, pelo fato de não exercermos nossa cidadania política, nem exigir que a casa do povo seja mais bem representada. O deputado não é eleito para me oferecer um emprego ou bolsa de estudo para meu filho, nem para defender seus interesses privados — mas para zelar pela coisa pública, pelo interesse coletivo e não individual.
O exercício de um cargo eletivo não deve ser nem “individualista”, nem “carreirista”. A política não é uma profissão, nem é vitalícia, nem hereditária. Como indagava a filósofa Hannah Arendt, qual o sentido da política, quando os homens políticos — eles mesmos — perderam o sentido político?
Daí urge aprofundar este debate com a sociedade brasileira. O ideal seria realizar fóruns populares e convidar os deputados federais e senadores a participarem do debate sobre a reforma política. No final de cada fórum, os cidadãos seriam convidados a escolher, entre as medidas sugeridas, a que considerassem mais importante. Deputados e senadores assinariam uma carta, estabelecendo os compromissos que se comprometeriam a defender. De certeza o parlamento brasileiro ganharia maior credibilidade, pois os representantes do povo estariam à escuta do povo. Basta vontade política para elaborar uma verdadeira reforma do sistema político.
Temos hoje no Brasil uma sociedade civil organizada, principalmente representada por movimentos sociais, ONGs de desenvolvimento, mundo associativo, centrais sindicais. Estes já participaram de vários embates que levaram a democratização do país. Há anos eles vêm lutando pela reforma do sistema político e não perderam a esperança, apesar das decepções.
A Abong, o órgão representativo das ONGs de desenvolvimento, reivindica, junto com outros movimentos e organizações sociais, cinco pilares da reforma do sistema político: o fortalecimento da democracia direta; o fortalecimento da democracia participativa; o aprimoramento da democracia representativa por meio do sistema eleitoral e dos partidos políticos; a democratização da informação e da comunicação; e a democratização do Poder Judiciário. Chegou a hora de se investir a fundo nessa mobilização.
Se quisermos um melhor funcionamento da governabilidade democrática, e, uma reforma do sistema e o funcionamento das instituições políticas, é hora de selar uma parceria entre democracia participativa e democracia representativa para elaborar uma verdadeira reforma do sistema político e evitar a privatização da política. Temos que reencontrar o sentido nobre da política, que permite a uma comunidade agir sobre si mesma, sem perder a visão do interesse geral. Esta reforma política deve favorecer um novo comportamento republicano. Só assim a política será escrita com letras maiúsculas e ganhará credibilidade e sustentabilidade.
O interesse pela coisa pública e a defesa do interesse geral
Os parlamentares devem ter um real compromisso partidário, privilegiar o interesse geral e zelar pela coisa pública. Uma democracia só é dinâmica quando não perde a capacidade de se inovar. O ideal seria estabelecer uma rotatividade de mandatos e limitá-los ao máximo de duas legislaturas. Os quadros políticos devem ser renovados. A rotatividade pode ser a solução para levar os jovens a se interessarem na política partidária. Por exemplo, um vereador pode ser candidatar a prefeito; o prefeito, a deputado estadual; o deputado estadual, a deputado federal; o senador, a governador; o deputado federal, a senador. Se esta regra fosse votada teríamos uma renovação completa do corpo partidário. É uma rica experiência poder subir na esfera da legitimação da representatividade popular. Assim como é importante que quadros políticos possam ser renovados.
Um segundo mandato é talvez interessante, devido à experiência e amadurecimento político acumulados. Cabe aos eleitores avaliar, no pleito seguinte, se a ação do representante foi pertinente; que projetos elaborou; que propostas interessantes contaram com o seu voto; qual a sua postura ética durante o mandato. Diante do constato da ação política, eles votarão ou não a confiança para um segundo mandato. Brigar por um terceiro mandato consecutivo impede a ascensão de novos candidatos. Impossível renovar os quadros políticos, revigorar a democracia se não aceitamos dividir ou delegar o poder.
Sustentabilidade política
Outra questão que merece um debate nacional envolve o significado da sustentabilidade política hoje no Brasil. A palavra é usada aqui fora da esfera do jargão politiqueiro: projeta-se no do real significado do senso político. Os representantes do povo, além de assumir o compromisso de defender os interesses públicos, devem estimular e facilitar a inclusão da participação social no poder político. Essa inclusão da cidadania política efetivará uma mudança estrutural nas relações com o poder e dará melhor sustentabilidade para uma governabilidade democrática mais participativa.
O eleitor considerado de “cabresto” torna-se um eleitor-cidadão consciente e crítico que terá a capacidade de interagir na sociedade denunciando e reivindicando ações junto aos órgãos públicos competentes para que a qualidade de vida atinja todas as camadas sociais. Para que uma verdadeira política de desenvolvimento integrado e solidário seja posta em prática em todo território nacional e modifique completamente a malha de funcionamento dos poderes locais. Os coronéis, os clientelistas, desaparecerão por completo da paisagem política brasileira. O modo de fazer política forjará uma nova relação entre o Estado e a sociedade civil. Os políticos agirão localmente e pensarão o global, ou melhor, glocal (global e local) e, de modo sistêmico planejarão o Brasil de hoje e do futuro.
Logicamente cabe aos parlamentares e juristas analisarem uma reforma do sistema político mais adaptado ao avanço da democracia brasileira. Ao expor minha análise política da questão, estou aqui apenas cumprindo com minha cidadania política.
Marilza de Melo Foucher é Doutora em Economia (Sorbonne), especialista em desenvolvimento territorial integrado, solidário e sustentável.

terça-feira, 8 de março de 2011

Desmistificando a Política


"A verdade é socialmente construída, a mentira também!" (August Ramon - in: Isolamento, 2011).




O MITO DA POLÍTICA


Há no imaginário popular um saber vulgar que persiste em valorizar a política como uma atividade essencial para a vida. Esse ideal caracteriza o mito da política e tem como função garantir a permanência dessa prática. A coisa funciona mais ou menos assim, apesar da população estar de "saco cheio" de toda parafernália produzida pelo sistema político e ainda, ciente que nenhum político pode ser levado a sério, renova-se a cada quatro anos uma vã esperança de que "a coisa vai pra frente". É um espírito juvenil, uma espécie de ilusão de óptica que inflama a alma popular e dissolve todas as mazelas produzidas durante décadas e décadas de regimes políticos mal sucedidos. Porém, depois da ventania "eleitoral"  vem a tempestade, as promessas não são cumpridas, os problemas permanecem e a almejada bonança não passou de um discurso falacioso. Mas não tem problema, depois de quatro anos o espírito se rejuvenesce e volta à tona o mito da Política.
É como se as pessoas agissem sem saber o que fazem, como fazem e por que fazem, ou seja, é quase irracional.


O MITO DO VOTO CONSCIENTE

O que significa estar consciente?  Diz-se que a consciência é uma faculdade da alma (razão, intelecto) enquanto uma capacidade subjetiva (eu) de perceber e compreender a si mesmo (eu novamente) e sua relação com o ambiente. Estar consciente resume-se na possibilidade de saber quem realmente somos e qual a nossa interação com o meio em que vivemos. Desse modo, a consciência implica necessariamente em ter uma vontade autônoma, isto é, ser capaz de escolher e julgar segundo a própria vontade (Senhor da sua causa).
Mas e o voto consciente? A grosso modo, o voto consciente é a capacidade SUBJETIVA de escolha sobre um representante ou representações políticas, feita obviamente por uma decisão criteriosa e racional.
O fato é que no Brasil existem 12, 295 milhões de pessoas incapazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples, isto sem levar em consideração os analfabetos funcionais, o que tornaria os números mais alarmantes, cerca de 33 milhões de pessoas**.
Enfim, o mito do voto consciente consiste em dar credibilidade ao eleitorado que manipulado, seja pela falta de acesso a educação, seja pela investida de empresas e partidos que gastam milhões em Marketing a fim de vender seu candidato, seja pela despolitização da nossa sociedade.
O engodo do voto consciente é mais uma maneira de maquiar as rédeas que prendem nossa população.


O MITO DO POLÍTICO JOVEM

Outro argumento falacioso que a imprensa veicula é o do político jovem, a ideia é a seguinte: a política tem solução, desde que, se coloque pessoas  "novas/jovens" para governar. 
Deixe-me ver se compreendi direito, acredita-se piamente de que o problema da estrutura política seja um problema de faixa etária? Os políticos atuais estão velhos demais para governar?
Obviamente que isso é ilógico!
Para pensar melhor esta questão, tomemos um trecho do Menestrel (Shakespeare):


"Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou".

Atribuir valor pelas experiências vividas parece-me digno, mas pela idade, um tanto quanto apelativo. Afinal, a idade pouco interfere na hombridade do sujeito. Poderei encontrar um homem de idade avançada, mas de um espírito imensamente inovador e de um conhecimento político inigualável. Ao passo que, me deparo constantemente com jovens   cuja mente mais parece uma folha em branco, sem perspectivas e objetivos. São como diria o bom e velho Marx, jovens com espíritos "velhos". 
Enfim, o mito do jovem político é um sofismo que procura promover aqueles que ainda não se beneficiaram com as regalias do mundo político.


O MITO DA FICHA LIMPA


Outro argumento que também incorre em erro é aquele que se relaciona com a ausência de valores éticos na política. O mito da ficha limpa consiste em dar credibilidade a afirmação de que a política é ruim porque os políticos são corruptos, sendo assim, é preciso "varrer toda sujeira" e colocar representantes com valores éticos. 
De fato, a ideia é boa, se e somente se, a coisa toda que compõe a estrutura política tivesse funcionando direito, ou seja, se as bases (fundamentos) fossem sólidas, o que não é.
Assim, não adianta alterar os personagens, colocar no cenário figuras ilustres: religiosos, professores, administradores, engenheiros, meretrizes, jogadores de futebol e até mesmo palhaços de circo. O fato é que o sistema é corrupto e todos que se relacionam com ele se tornam, direto ou indiretamente, corruptos. 
O mito da ficha limpa acende uma vã esperança, mas o tempo, infelizmente, se encarregará de apagá-la. 


Por: Maicon Fortunato

segunda-feira, 7 de março de 2011

Negri e Hardt escrevem sobre a revolta árabe


Por Antônio Negri e Michael Hardt, no Guardian (24.02.2011) | Tradução: Bruno Cava
Um desafio para quem observa as revoltas disseminadas pelo norte da África e no Oriente Médio está em interpretá-las não como mais uma repetição do passado, mas como experiências originais, que abrem novas e relevantes possibilidades políticas, inclusive para além da região, de liberdade e democracia. De fato, nossa expectativa é que, através desse ciclo de lutas, o mundo árabe se torne na próxima década o que a América Latina foi na década passada — isto é, um laboratório de experimentação política entre potentes movimentos sociais e governos progressistas: da Argentina à Venezuela, e do Brasil à Bolívia.
Essas revoltas imediatamente realizaram um tipo de faxina ideológica, varrendo as concepções racistas de choque de civilizações que comprometiam a política árabe no passado. As multidões em Túnis, Cairo e Benghazi destroçaram os estereótipos políticos que amarravam os árabes na opção entre ditaduras seculares e teocracias fanáticas, ou que atribuíam aos muçulmanos uma certa incompatibilidade para a liberdade e a democracia. Mesmo chamar essas lutas “revoluções” parece confundir os comentadores, que consideram que a progressão de eventos obedece à lógica de 1789 ou 1917, ou de alguma outra rebelião européia no passado contra reis e czares.
As revoltas árabes inflamaram a partir da questão do desemprego, e o centro delas tem sido a juventude altamente educada, mas cujas ambições são frustradas — uma população que tem muito em comum com os estudantes nos protestos em Londres e Roma. Apesar de a principal demanda no mundo árabe se concentre no fim da tirania e de governos autoritários, atrás disso existe uma série de demandas sociais relativas ao trabalho e à vida, não somente para acabar com a dependência e a pobreza, mas também empoderar e dar autonomia à população inteligente e altamente capaz. Daí a deposição de Zine Ben Ali, Hosni Mubarak ou Muammar Gaddafi tenha sido apenas o primeiro passo.
A organização da revolta lembra o que tínhamos visto por mais de uma década em outras partes do mundo, de Seattle a Buenos Aires e Gênova e Cochabamba: uma rede horizontal sem líder central ou único. Órgãos tradicionais de oposição podem participar dessa rede, mas não a guiar. Observadores de fora tentaram identificar um líder nas revoltas egípcias desde sua origem: talvez seja Mohamed ElBaradei, talvez o diretor de publicidade do Google, Wael Ghonim. Eles temem que a Fraternidade Muçulmana ou outro grupo possam assumir o controle dos acontecimentos. O que eles não entendem é que a multidão consegue organizar-se sem um centro — que a imposição de um líder ou a cooptação por algum organismo tradicional solapariam sua força. O predomínio das ferramentas das redes sociais nas revoltas, como o facebook, o youtube e o twitter, são sintomas, não causas, dessa estrutura organizacional. Elas são formas de expressão de uma população inteligente, hábil para usar as ferramentas à mão e organizar-se autonomamente.
Embora os movimentos organizados em rede recusem liderança central, eles ainda assim precisam consolidar suas demandas num novo processo constituinte que conecta os segmentos mais ativos da rebelião às necessidades da população como um todo. As insurreições da juventude árabe certamente não almejam pela constituição liberal tradicional, que meramente garante a separação dos poderes e a dinâmica eleitoral regular. Porém, na verdade, visam a uma forma de democracia adequada aos novos modos de expressão e às necessidades da multidão. Isto deve incluir, primeiramente, o reconhecimento constitucional da liberdade de expressão — não na forma típica da mídia dominante, que é constantemente sujeita à corrupção de governos e elites econômicas, mas sim uma representada pelas experiências comuns de relações interconectadas.
Dado que os levantes foram iniciados não apenas pelo desemprego e pobreza disseminados, mas também como sentimento generalizado de não poder produzir e expressar-se, especialmente da parte dos jovens, uma resposta radical constitutiva precisa inventar um plano comum para administrar a produção social e os recursos naturais. Esta é a fronteira que o neoliberalismo não pode ultrapassar, onde o próprio capitalismo é posto em questão. E um regime islâmico é completamente inadequado para atender a essas necessidades. Aqui, a insurreição atinge não só a estabilidade do norte da África e do Oriente Médio, mas também o sistema global de governança econômica.
Portanto, nossa expectativa de o ciclo de lutas pelo mundo árabe tornar-se semelhante à América Latina, inspirar movimentos políticos e incitar aspirações por liberdade e democracia além da região. Cada revolta, é claro, pode falhar: tiranos podem desencadear uma repressão sangrenta; juntas militares podem tentar manter-se no poder; grupos tradicionais de oposição podem tentar aparelhar os movimentos; e hierarquias religiosas podem ardilosamente assumir o controle. Mas o que não vai morrer são as demandas políticas e os desejos que foram deflagrados, as expressões de uma geração jovem e inteligente por uma vida em que eles possam aplicar as suas habilidades.
Enquanto essas demandas e desejos pulsarem de vida, o ciclo de lutas continuará. A questão é: o que os novos experimentos de liberdade e democracia podem ensinar ao mundo, através da próxima década.
Antônio Negri, militante e filósofo italiano, escreveu junto de Michael Hardt,professor de literatura norte-americano, Império (2001), considerado o primeiro manifesto político do novo milênio, bem como suas seqüências Multidão (2005) eCommonwealth (2009).

sábado, 5 de março de 2011

O MOVIMENTO ZEITGEIST


"Quando superarmos nossas próprias limitações, religiosas, políticas, econômicas e sociais, poderemos fazer do mundo um lugar melhor" - Ramon




O Movimento Zeitgeist não é político. Não reconhece nações, governos, raças, religiões, credos ou classes. Chegamos à conclusão de que estas distinções são falsas e desatualizadas e estão longe de serem fatores positivos ao verdadeiro potencial e crescimento humano coletivo. Suas bases estão na divisão do poder e estratificação, e não na união e igualdade, que são nossos objetivos. Embora seja importante entender que tudo na vida é uma progressão natural, devemos também reconhecer que a espécie humana tem a habilidade de retardar drasticamente e paralisar o progresso através de estruturas sociais obsoletas, dogmáticas e, por conseguinte, entrar em desarmonia com a natureza. O mundo que vemos hoje, cheio de guerras, corrupção, elitismo, poluição, pobreza, epidemias, abusos aos direitos humanos, desigualdade e crime, é o resultado desta paralisia.
Este movimento é sobre a conscientização em defesa de um progresso evolucionário fluente, tanto pessoal como social, tecnológico e espiritual. Ele reconhece que a espécie humana naturalmente caminha para a unificação, derivada de um comunal reconhecimento de compreensões fundamentais e quase empíricas de como a natureza funciona e de como nós, humanos, nos adaptamos / somos parte deste descobrimento universal que chamamos de vida. Embora este caminho exista, infelizmente ele está obstruído e é desconhecido pela grande maioria das pessoas, que continuam a perpetuar comportamentos e associações ultrapassadas e, portanto, degenerativas. É essa irrelevância intelectual que o Movimento Zeitgeist espera superar por meio de educação e ações sociais.
O objetivo é revisar a sociedade no mundo de acordo com o conhecimento atual em todos os níveis, não apenas conscientizando sobre as possibilidades sociais e tecnológicas que muitos foram condicionados a pensar serem impossíveis ou contra a “natureza humana”, mas também para fornecer meios de superar os elementos que perpetuam estes sistemas obsoletos na sociedade.
Uma importante associação, de onde muitas das idéias deste movimento se derivam, advêm de uma organização chamada “Projeto Vênus”, dirigida pelo engenheiro social e industrial Jacque Fresco. Ele trabalhou por praticamente toda a sua vida para criar as ferramentas necessárias para auxiliar no projeto do mundo que poderia eventualmente erradicar as guerras, a pobreza, o crime, a estratificação social e a corrupção. Suas idéias não são radicais ou complexas. Elas não exigem uma interpretação subjetiva de sua formação. Neste modelo, a sociedade é criada como um espelho da natureza, com as variáveis pré-definidas, inerentemente.
O movimento em si não é uma construção centralizada.
Não estamos aqui para conduzir, e sim para organizar e educar.


ASSISTA O DOCUMENTÁRIO: ZEITGEIST 

MOVING FORWARD


Obs: Para colocar a Legenda aperte no ícone "cc" na parte inferior da tela.




        PROJETO VÊNUS
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