sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A regressão da Política










O que é a Política?

        Uma questão aparentemente simples ou não? Talvez os políticos possam responder com clareza o sentido desse conceito, afinal de contas, são os legítimos representantes dessa arte. Todavia, poderia meu leitor requerer para si o direito de manifestar sua opinião sobre esse tema, pois como diria Aristóteles, somos todos animais políticos (Zoon Politikon). Pensando exatamente na complexidade que reserva esse assunto coloquei-me a pensar e a escrever algumas considerações que julgo ser de extrema importância.
          Primeiramente, gostaria de analisar a compreensão que a sociedade atual possui sobre o referido termo. Para isso não será preciso muito dispêndio intelectual basta observar o movimento da massa. A sociedade civil procura a satisfação de suas necessidades básicas como, por exemplo, alimentação, moradia, emprego...Desse modo, projeta para a política o dever de saciar tais anseios. E a partir daí, escutamos coisas do tipo, política é tramitação de verbas e licitações, envio de recursos aos municípios, enfim, uma esfera burocrática e puramente funcional. 
              Isso se torna mais visível nos períodos eleitorais, onde o discurso versa sobre aquele que fez ou que ainda poderá fazer algo. Mas o que seria esse algo? Nada mais do que, recursos "materiais" . E os panfletos que circulam pelas cidades apresentam a figura do bom rapaz, que durante seu laborioso período de gestão foi capaz de viabilizar "um caminhão" e coisas do gênero. Diante dessa realidade, a população forjou um conceito de Política que de tão cômico, tornou-se bizarro. 
               Seguindo a lógica que sustenta essa concepção, tomemos algumas problemáticas para pensar melhor esse ardiloso tema. Se política realmente for o que se apresenta em nossos dias, o que dizer do voto, ou seja, qual a importância da participação social e dos elementos que compõem suas manifestações? Ora, ao reduzir o corpo político a administração de cidades, Estados e Países, o voto que julgamos ser um componente indispensável para a vida política, se torna desnecessário e ainda, inútil. Poderíamos ao invés de votar, contratar um grupo de administradores ou quem sabe terceirizar esses serviços para um grupo de estrangeiros, e ainda, selecionar pessoas para esses afazeres por meio de um concurso público. Por que não fazer? Essas alternativas me parecem tão plausíveis e até melhores do que o voto. Assim, evitaríamos o desperdício de dinheiro público com campanhas eleitorais e não perderíamos o domingo (tempo sagrado para a TV) tendo que ir votar. Estaríamos colocando pessoas eficazes e capazes de administrar o bem público que no mínimo manteriam as coisas como estão, pois "pior do que tá não fica".
               Tomando a política sob esta ótica, as coisas se tornam mais extremas ainda, vejamos: Um Estado totalitário do tipo nazista, desde que sacie as necessidades básicas da raça ariana, isto é, garantido boas condições de vida para seu povo, poderia ser julgado como um excelente regime. Um ditador que mantenha seu povo de bolso e boca cheia será por nossa sociedade louvado. Pois bem, meus caros, Política a meu ver não se resume à administração do bem público. Contudo, a resposta para a questão inicial ainda permanece latente e um amável amigo a fim de salvar o que restou do sentido político, buscaria refúgio nas organizações partidárias. Convicto de seus ideais encontraria nos movimentos de partidos políticos o espaço em que a política, tal como estamos pensado, realmente acontecesse. Mas volto a problematizar e dessa vez coloco como questão a essência dos partidos, isto é, qual a característica política existente nos partidos? 
      Seria a capacidade de representar e legitimar os interesses da sociedade? Não estou convencido dessa prerrogativa. Que espaço de deliberação existe nesses movimentos? Basicamente, nenhum. Quando aderimos a um partido nossos ideais e interesses particulares pouco importa, não existe nesses uma instância de debates e conflitos de opiniões. Na verdade, nossa inserção implica num juízo apriorístico de que, nossa posição política é aquela ofertada pelo partido. Desse modo, não há política dentro dos partidos políticos, o que existe de fato neles são interesses privados de grupos e representações financeiras. Não precisamos ir longe para perceber a veracidade de minhas palavras, basta olhar para a política local, aqueles "políticos" que até então não haviam se corrompido, hoje são aliados de grandes empresários.
            Apesar de desconstruir o significado atual, nos falta ainda, apresentar um caminho que possibilite pensar o conceito política. Para isso, devemos voltar à raiz ou ao fundamento de todo processo histórico que constituí o pensamento político. Refiro-me a Grécia antiga, se analisar brevemente a organização social daquele povo, veríamos que antes mesmo da existência da esfera pública os gregos tinham uma invejável estrutura social, ou seja, do ponto de vista da administração de suas necessidades a política não seria necessária. Mas com qual intuito teria surgido a política? o leitor mais atento, já deve ter associado o termo Polis (cidade) à Política e acredito ser dessa associação que nasce o verdadeiro sentido desse conceito. No berço da civilização, política estava associada à decisão sobre assuntos referentes a polis e tinha como característica própria, a presença do debate, da arguição que deixavam de ser privilégio de alguns grupos (não estamos colocando em questão a divisão social).


CONTINUAÇÃO...
             

5 comentários:

  1. Uma analise minuciosa sobre o conceito política, excelente texto, evidencia-se os extremos entre o que conhecemos em nosso dia a dia sobre o termo em questão e a política em seu cerne, em sua verdadeira definição e essência, a nós fica a frustração o desapontamento sobre tudo o que vivenciamos por aí, uma mescla horrenda de erros e aberrações que infelizmente substituiu e prevaleceu ante veracidade original do termo política.

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  2. Excelente análise do significado de política. O que percebi de mais interessante foi o dessenrolar da análise do conceito de política. O texto começa analisando o que ela significa hoje para a massa de nossas populações e depois voltar ao começo do conceito na Grécia antiga. Porém, penso que a análise que a massa populacional faça sobre o que é política não é de toda descartável, talvez esse descarte expressaria um pouco de um pensamento elitista que concebe o conceito de política apenas aquele ou criado por uma sociedade diferente(deixando a entender ser melhor) ou posteriormente por um grupo de intelectuais tendo por referencia também a sociedade grega como se o entendimento do povo sobre determinado aspecto da realidade social fosse "bizarro".
    É preciso sim compreender o que o povo concebe sobre política, pois os conceitos da vida social são ressignificados diariamente pela apreensão desse mundo social que diga-se de passagem é bastante dinâmico e a luz da fenomenologia, ou melhor, da etnometodologia não vamos estagnar uma pensamento que é feito e resignificado diariamente por nós mesmos. É preciso deixar o sonho platônico de procurar uma essência que não existe. Se esta existe, é a própria tranformação das coisas.

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  3. Bravo!!!
    Sua retomada sobre o conceito "Política" na Grécia, me fez lembrar de um velho ditado popular, que veio mudando com a civilização, "sabe-se lá por quê".
    O ditado dizia o seguinte: "Quem tem boca 'vaia' Roma". Hoje esse ditado apresenta seu sentido totalmente distorcido: "Quem tem boca "vai a" Roma". Sobre o que você, muito bem, colocou sobre a Política na Grécia, esse ditado já traduzia a eficácia da aplicabilidade do que se era e ainda é a Política, não importando onde ela ocorra, visto que Roma e Grécia sempre foram potência em se tratando de Política, principalmente na antiguidade.

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  4. Obrigado pelos comentários gnt!
    Gostaria de lembrar que o conceito que August "ainda" está forjando não se trata de uma classe dita intelectual e ainda, não está descartando o valor político que confere a sociedade. A político para o nosso autor, está longe de ser platônico, ao contrário, é ação, fenômenos que somente pode ser compreendido enquanto ATO. Os conflitos sociais precisam ter espaço de manifestações, isso será tratado na continuação.
    Mais uma vez, muitíssimo obrigado!

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