domingo, 24 de julho de 2011

Europa, EUA e a agonia do capitalismo


Europa, EUA e a <br>agonia do capitalismo


Numa condição que somente se aprofunda, a Europa e os EUA preencheram o noticiário semanal, atestando a debilidade e a agonia contemporânea do capitalismo. No caso da Europa, no dia 9 de julho, a Itália se apresentou como o novo figurante da chamada "crise fiscal". Há alguns anos esse país possui altos níveis de dívida pública, acima de 100% do PIB e, hoje, está em 120%. Membro destacado do G7, tendo o terceiro maior PIB da Zona do Euro, sua economia é maior que o dobro da soma da grega, da irlandesa e da portuguesa.
Ou seja, para usar um termo recorrente em 2008, a situação da Itália encaixa-se na categoria "too big to fail" (“grande demais para falir”). Mais exatamente, seu caso seria de "too big to save" (“grande demais para salvar”) sua dívida, de cerca de 1,8 trilhão de euros, é mais que duas vezes e meia a capacidade total do fundo de resgate da União Européia e a exposição dos bancos internacionais a ela é também maior que a soma da exposição à dívida dos 3 países citados acima.
O alarme soou quando, repentinamente, as principais agências de rating dos EUA voltaram seus olhos para o país mediterrâneo e rebaixaram sua credibilidade diante dos investidores internacionais, criando grande alvoroço e lançando dúvidas sobre sua capacidade de honrar a dívida.
Segundo as agências, embora o déficit do país não seja tão grande, a Itália sofre de grandes problemas estruturais: crescimento abaixo de 1%, falta de dinamismo econômico e um "mercado de trabalho esclerosado". O governo Berlusconi teria se mostrado incapaz de realizar as reformas trabalhistas necessárias.
O ministro de finanças do país, Giulio Tremonti, rejeitou duramente a análise das agências de rating, exigindo o comparecimento de representantes da Moody's e da S&P em Roma. Descreveu tais ações como injustificadas e irresponsáveis. Além dele, Frederico Ghizzoni, chefe do banco Unicredit, afirmou furioso que graças às ações das agências sua instituição perdeu um quinto da capitalização do mercado ao final da semana. Um dos representantes da Comissão de Justiça da União Européia, Viviane Reding, exigiu o fim das atividades das três principais agências americanas, afirmando que elas atuavam como um cartel, com interesses econômicos escusos.
O fato é que depois de ter esfriado o conflito entre setores burgueses, o parlamento italiano, atuando como legítimo representante de toda a classe burguesa, aprovou seu pacote de austeridade contra a classe trabalhadora. O pacote aprovado é de 40 bilhões de euros, podendo chegar a 79 bi. O pacote consiste, substancialmente, na destruição do serviço público, com a demissão de 265 mil trabalhadores. Aqueles que restarem não escaparão aos ataques, tendo seus salários congelados por quatro anos. O pacote destruirá também o ensino público, o sistema de saúde, fechando hospitais, além do setor cultural, fechando museus, teatros e sítios arqueológicos. Os representantes do capital não poupam nem os aposentados, atacando as pensões e aumentando a idade para aposentadoria.
No restante da Europa a situação não é melhor. Os temores a respeito de grandes economias européias, como a Itália e a Espanha, crescem à medida que a situação das menores se mostra mais insustentável. No caso da Grécia, resgatada em meados de 2010 e tendo sofrido uma reestruturação de sua dívida há cerca de um mês, por incapacidade de pagamento, parece não restar saída. Sua dívida é já de 150% do PIB e seu déficit anual é de -7%, ou seja, apesar dos planos de resgate e de austeridade, sua dívida somente crescerá a cada ano, sendo obrigada a fazer novos empréstimos.
Similar é o caso da Irlanda, que na terça-feira teve sua credibilidade rebaixada ao status junk (lixo), o que contribuiu para derrocada das bolsas européias. Sua dívida é de 114% do PIB e seu déficit é de -10%. Ao que tudo indica, o país terá que passar, a médio prazo, por um segundo resgate, similar ao grego, tendo a sua dívida "reestruturada", por incapacidade de pagamento no período determinado.
Nessa situação, já se fala cada vez mais no calote como uma realidade, sobretudo no caso grego. As dúvidas seriam somente a respeito de como agir diante do calote. A União Européia se apresenta ainda mais dividida, atestando seu fracasso político e econômico. Um bloco, liderado pela Alemanha (com Áustria, Holanda, Finlândia e apoio do FMI) defende que o setor privado também deve sentir o peso da crise, ou seja, que o calote grego deve ser anunciado e parte dos bancos deve arcar com as consequências. Em contraposição estão o Banco Central Europeu, a França, a Espanha e Portugal. Independente de quem vença, um calote grego teria enormes repercussões e levaria a crise ainda mais às grandes economias européias e mundiais.
Do outro lado do atlântico, a economia do gigante EUA também apresenta sinais de debilidade. Pela primeira vez em quase um século os jornais mundiais estamparam as palavras "EUA" e "calote" numa mesma manchete. Isso poderia ocorrer caso o teto da dívida norte-americana não fosse ampliado até o dia 2 de agosto, obrigando grande parte dos seus pagamentos. Mas o calote, ainda que improvável, somente ao ser cogitado inunda de estresse todo o mercado capitalista e reanima o fantasma do colapso da economia mundial, presente desde 2008. Estaria por trás desse fato, na verdade, uma queda-de-braço entre os Democratas e os Republicanos para aprovar novas medidas de austeridade, com ataques aos sistemas de saúde e seguro social, mais uma vez lançando o peso da crise sobre as costas da classe trabalhadora.
Fonte: Mnn

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