quarta-feira, 8 de junho de 2011

Morangos Silvestres

CONTEÚDO DIDÁTICO: FILOSOFIA E PSICOLOGIA - EXISTENCIALISMO E FREUD.

Dados do Arquivo:
País de Origem:  Suécia
Gênero: Drama/Fantasia
Tempo de Duração: 91 minutos
Ano de Lançamento:  1957
Formato: AVI
Qualidade: DVD Rip
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Direção: Ingmar Bergman
Elenco
 Victor Sjöström, Bibi Andersson, Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand, Jullan Kindahl,Folke Sundquist, Björn Bjelfvenstam, Naima Wifstrand, Gunnel Broström, Gertrud Fridh.

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Sinopse:
O eminente Professor Isak Borg acorda (perturbado por um sonho em que vê sua própria morte) bem cedo no  dia em que vai receber um titúlo honorífico. Decide ir de carro com sua nora Marianne (a estonteantemente bela Ingrid Thulin) até a universidade. No caminho, ela o critica por ser frio, o que o leva a examinar sua vida. Ele que, embora voltado à ciência e com uma carreira bem-sucedida como médico, era tão egoísta quando se tratava do trato com os outros. Eles param numa casa onde ele viveu por vinte anos e se lembra da rejeição por parte da bela Sara. Logo depois, eles dão carona a três jovens: uma garota (também chamada Sara, e interpretada pela mesma atriz, uma das favoritas deBergman, Bibi Andersson) – em cuja aparência e atitude desafiadora e autoconfiante há semelhanças óbvias com a Sara do passado – e dois rapazes. Eles se envolvem num acidente. O marido e a esposa que estão no outro carro juntam-se ao grupo do professor, mas o casal briga, e Marianne os manda sair. Na paz que se segue, o velho professor sonha de novo, dessa vez com um fracasso (o qual ele não viveu) em um teste de competência profissional. Ele acorda e param para visitar a mãe dele, de 96 anos, cuja frieza para com o filho choca Marianne. Eles chegam à universidade e o médico recebe as honrarias. Quando o dia termina, ele faz sua primeira tentativa para romper a “cela” de frieza que ele construíra e na qual vivera por quase toda sua vida.
  Viajar ao passado particular. Rever e reavaliar as próprias vivências. O onírico a abrir sendas que conduzem a uma profunda análise de momentos-chave e incidentes definidores da vida e de suas escolhas. São esses, basicamente, os temas por trás do fascínio que Morangos Silvestres (Smultronstället, 1957) ainda desperta, passados mais de cinqüenta anos de seu lançamento. Afinal, quem nunca um dia teve um sonho relacionado a uma experiência vivida há muito tempo? Ou ainda: quem nunca desejou voltar a um ponto específico de sua própria vida e assim, de forma retroativa, mudar algo ali que ocasionaria mudanças relevantes no futuro daquela pessoa?


O eminente Professor Borg, no final de uma vida dedicada à ciência, passa a ter sonhos que o incomodam: o primeiro sonho, numa das mais famosas seqüências oníricas da história do cinema, se vê perdido numa parte desconhecida da cidade. A solidão é total ali. Ouvimos o bater de um coração. Um sol forte, com a imagem acentuada por um branco claustrofóbico, nos passa a sensação exata que sente o velho professor, que caminha pela calçada, na qual os estabelecimentos todos são fechados por tábuas, em vez de janelas. Um relógio grande sem ponteiros (representando o inescrutável da precária existência humana: a morte?); uns olhos estilizados numa placa logo abaixo do misterioso relógio; um vulto de um homem de costas, do qual Borg se aproxima para constatar ser uma figura de semblante surreal e que desaba na calçada, agora sem cabeça a esvair-se em um líquido. E o mais aterrador de tudo: uma carroça sem condutor puxada por cavalos desgovernados trazendo um caixão. A roda dianteira traseira da carroça fica presa num poste de luz, é arrancada e vai rolando e quase “atropela” o pasmo e assustado professor, que a tudo vê encostado a uma parede. Com o esforço para sair dali, o carroça se inclina: o caixão cai ao meio-fio e a surreal condução fúnebre se vai, virando uma esquina. E desaparece. O silêncio volta. O professor vê uma mão saindo do esquife. Ele se aproxima. E percebe a mão a se movendo para fora do caixão e, surpreso ao extremo, vê seu próprio corpo se levantando dali. Ele desperta, ainda receoso de abrir os olhos.

   Começa assim o seu grande dia. A partir desse sonho, ele mudará. E muito! Desperto, ele caminha até o quarto de sua ajudante de tantos anos e lhe diz que irá até Lund (para a grande cerimônia de entrega do prêmio honorífico) de carro, e não de avião, conforme o planejado. Ou seja, lemos nas entrelinhas: algo “estalou” na cabeça do velho professor com o sonho. Ela passa a ter a vontade de rever algo, de resgatar uma certa “coisa” em seu passado. Com a visão da própria morte, ele revê suas atitudes, tudo em virtude de um senso de urgência despertado pela morte iminente que é imprecisa no tempo (lembram do relógio sem ponteiros?), mas certa, porque inescapável.

Há uma pitada de ironia: Borgera um médico, alguém, supostamente, que tinha de ser voltado e dedicado ao outro. Mas ele vivera apenas uma fachada: num contraponto (muito usado na filmografia deBergman), acentua-se ainda mais o contraste entre o homem frio por dentro mas por fora aparentemente (numa dissonância ainda mais incômoda para ele) um “defensor da humanidade”.

   O filme é interessante ao extremo por lidar com esse campo tão bem explorado por Bergman: o passado que insiste em não morrer, em nos influenciar e o campo dos sonhos, nos quais se escondem nossos receios e desejos e fobias e as mais recônditas verdades e quase-verdades. Portanto, num plano psicanalítico, o filme também é rico.
   E tem várias passagens antológicas: Borg senta-se numa clareira perto da casa em que morou e passa a devanear. Esse devaneio o leva ao passado. E aí há o cruzamento entre o presente e o passado: ele volta a um dia de sua longínqua juventude e vê sua amada Sara, seus irmãos e irmãs, entra na casa e vê um almoço, no qual estão quase todos presentes. Todos no auge de suas vidas. Nesse cruzamento, nessa intersecção entre o presente e o passado, temos o vislumbre ou a impressão que o último, ainda que distante, é algo palpável, mensurável e possível de ser revivido e, daqui, do presente, reavaliado, o que é mais importante. O velho e eminente professor, que pela vida afora fora tão distante para com os outros, passa a reavaliar, num prisma crítico, suas próprias atitudes. Dessa forma, uma catarse o “transforma” internamente: a reavaliação e revalorização da vida acontece.

   Bergman mostra tudo isso não de um ponto de vista piegas. Não há sentimentalismos ali. É tudo tão crível nesse filme, que nós, prontamente, sentimos uma grande empatia para com o protagonista, ele que vai às ruas raízes para ver de um outro ponto de vista sua vida, suas vivências.
   O quase misantropo Professor se abre para a vida, em seu ocaso. Mas a tempo ainda de ter um momento de paz, de contentamento e de “sentido” para sua existência. A cortina, então, poderia cair.
   A seqüência do sonho em que ele é testado por uma banca examinadora também tem um quê de surreal absolutamente inesquecível. Quando, logo mais, ele “vê” (revivê, se me permitem o neologismo canhestro) a traição de sua mulher, o examinador (que era o marido sem noção que humilhara a esposa e a quem o grupo de Borg dera carona e fora expulso do carro), temos uma aula do que é um diretor (ainda que os procedimentos usados por ele hoje em dia pareçam “manjados” e até mesmo ingênuos) voltado à exploração do dificílimo descortinamento de nosso vasto e complexo mundo interior.
   A interpretação do lendário mestre Victor Sjöström (que foi um dos grandes diretores do cinema mudo sueco e fez sucesso também nos EUA) no papel é tão convincente que no final nos deixa uma sensação de saber o que é de fato umainterpretação. Ele simplesmente, aos 78, já fraco e debilitado, é o centro de tudo ali!
   O filme levanta outras questões, múltiplas, obviamente. Aqui, este blogueiro bissexto e crítico de coisa nenhuma, apenas um inquieto e curioso intelectualmente, preferiu escolher alguns aspectos que o interessaram, a saber: a volta ao próprio passado, a questão do tempo, a junção de realidades distantes, temporalmente e, acima de tudo, a magia do que é vivenciar uma obra de arte que nos desvenda e nos torna mais ricos interiormente.
  
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