sábado, 21 de maio de 2011

A crise européia se aprofunda


A crise européia se aprofunda

"A própria burguesia não encontra saída"
Leon Trotsky
Nesta última quarta-feira, milhares de trabalhadores suspenderam suas atividades na Grécia para protestar contra o programa de austeridade adotado pelo governo em troca da ajuda financeira oferecida pela União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A greve geral aconteceu enquanto inspetores da União Europeia e do FMI visitavam Atenas para avaliar a situação econômica grega, um ano após a concessão dos recursos financeiros que evitaram a quebra do país.
A paralisação afetou principalmente as empresas estatais que o governo pretende privatizar dentro da estratégia para reduzir a enorme dívida do país, informou a agência Reuters. O tráfego aéreo foi interrompido devido à participação dos controladores aéreos, o que levou ao cancelamento ou remarcação de centenas de voos. Os navios e os trens também pararam. Os hospitais públicos atenderam apenas casos de emergência. Ainda segundo a Reuters, a Grécia viveu um blecaute informativo pela participação na greve dos jornalistas de toda a imprensa, em particular protesto pela onda de demissões e más condições de trabalho.
A greve geral tenta barrar um novo plano de austeridade para arrecadar cerca de 76 bilhões de euros até 2015 mediante a privatização de empresas estatais e a venda de bens públicos, para reduzir o déficit público.
As medidas de austeridade vão minando o nível de vida do povo grego. Segundo dados oficiais, o desemprego atinge a casa dos 15% e para os sindicatos a taxa deve subir ainda mais e bater os 20 % até o final deste ano. Os jovens são os mais atingidos pela recessão: 40,4% das pessoas com idade entre 15 e 24 anos estavam sem emprego em fevereiro, acima dos 32% no ano passado.
A situação na Grécia preocupa as autoridades da UE e do FMI. Relatório do Fundo Monetário aplaude os cortes do governo grego, mas aponta um risco de expansão da crise para outros países da zona do Euro. "Respostas políticas fortes têm conseguido conter os problemas de dívida soberana e do setor financeiro na periferia da zona do euro até agora, mas um contágio para o centro do bloco, e então para a Europa emergente, permanece como um risco negativo tangível", afirmou o FMI.
A magnitude da crise econômica afasta definitivamente a impressão de se tratar de uma crise local, ou regional. Seus ecos são sentidos não somente nos países centrais do bloco europeu, como em todo o mundo. O espetacular extermínio Bin Laden pode aumentar a popularidade de Obama e salvar a sua reeleição, mas não pode esconder a recessão naquele país. Da mesma forma, a guerra contra Kadaffi e os levantes no Oriente Médio são apenas formas diversas do aprofundar da crise.
No Oriente Médio e norte da África, um dos aspectos mais importantes da crise é, como já demonstramos em outra ocasião, o fluxo migratório para a Europa. Guerras e conflintos de rua, assim como a alta dos preços dos alimentos e o crescente desemprego vem estimulando uma intensa migração dessas regiões para a Europa, em especial, para a Itália, que somente nos últimos dias recebeu 25 mil imigrantes vindos da Tunísia.
As autoridades européias veem com grande preocupação esse processo, como demonstra a discussão recente sobre o restabelecimento do controle das fronteiras e a revogação do tratado de Schengen. O documento de Schengen, assinado em 1985, garantia livre trânsito entre as fronteiras de 27 países da Europa. A suspensão do acordo, conforme noticiou a Folha online, foi defendida pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, e pelo primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que se reuniram no fim de abril para debater a possibilidade de que os imigrantes tunisianos invadissem o território francês a partir do lado italiano da fronteira.
Por trás da discussão sobre a revogação ou não do tratado de Schengen e da questão da imigração se oculta a transposição da crise econômica para a esfera política, com o crescimento da extrema direita e seu discurso anti-imigração. Na França, por exemplo, a Frente Nacional, de Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, assume o primeiro lugar nas pesquisas para a eleição presidencial de 2012 com um discurso radical contra os imigrantes e pelo fim da União Européia, que, segundo Le Pen, "brilha com a luz de uma estrela morta".
Com o sueco Jimmie Aekesson, o húngaro Gabor Vona e o neozelandês Geert Wilders, Marine Le Pen personifica o novo rosto da extrema direita europeia. Le Pen, por sua vez, dificilmente encontrará um caminho consistente para superar a crise. Como escrevia Leon Trotsky, no Programa, "a própria burguesia não encontra saída" para a crise. "Nos países onde foi obrigada a fazer sua última jogada com a carta do fascismo," continua Trotsky, "ela caminha, atualmente, de olhos fechados, para a catástrofe econômica e militar".
Catástrofe esta que não demora a chegar na América Latina. Ainda que a alta dos preços das commodities encubra os efeitos da crise, mesmo entre os porta-vozes da burguesia, como o diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Nicolas Eyzaguirre, já se aceita a idéia de que toda a "euforia e exuberância" econômica pode "acabar em lágrimas".  
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