quinta-feira, 31 de março de 2011

A recolonização em curso


A recolonização em curso

Os levantes populares em todo o Oriente Médio e Norte da África parecem longe do fim. No Iêmen, graves conflitos de rua transcorrem desde a semana passada. Na Síria, o presidente Bashar Assad anunciou a libertação de centenas de presos políticos, além do recuo de policiais e soldados de uma cidade rebelde do sul do país, para tentar acalmar a população. Na Jordânia, violentos confrontos ocorridos em Amã, entre opositores e as forças de segurança, acabaram com um morto e mais de 130 feridos.
A sensação de instabilidade é total. Como observamos em outros editoriais, os conflitos têm uma solução difícil de ser equacionada. Em toda a região, regimes ditatoriais, mais ou menos aliados ao grande capital internacional, vêm tendo sua autoridade questionada pelos levantes populares, que, por sua vez, são, em sua grande maioria, espontâneos, sem uma direção revolucionária socialista ou até mesmo democrático-burguesa clara, amarrados por elementos pré-capitalistas (como o fundamentalismo religioso).
A ação imperialista sobre a Líbia atesta a preocupação de setores do grande capital internacional com o caos instaurado na região. A Líbia está sendo vista como uma porta de entrada do imperialismo para instaurar, se necessário, um controle militar e político direto no norte da África e Oriente Médio. A preocupação central, sem dúvida, gira em torno das reservas de petróleo abrigadas na região.
A intervenção das potências visa garantir o abastecimento do petróleo, sem interrupção, e a transição política desses regimes para outros igualmente submissos aos seus interesses. Por outro lado, a ofensiva imperialista é também um grande negócio, mesmo do ponto de vista estritamente econômico.
Se lembrarmos que a força motriz desses levantes foi o impacto da crise econômica mundial, as palavras de Marx, no Manifesto, são bastante esclarecedoras. "De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises?", pergunta Marx, para responder logo em seguida, "pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas". Ora, a destruição de forças produtivas é a essência da indústria bélica e da ação das potências sobre a Líbia, cuja ofensiva não apenas destrói alvos militares como importantes obras de infra-estrutura urbana e produtiva.
Os números são assustadores. Segundo apurou a revista National Journal, somente no primeiro dia de ataques dos EUA contra a Líbia, estima-se em US$ 100 milhões os gastos norte-americanos. Se forem incluídos os gastos operacionais envolvidos, o montante poderia chegar a US$ 1 bilhão. O custo "dos períodos iniciais" do ataque por parte das forças da coalizão poderiam oscilar entre US$ 400 milhões e US$ 800 milhões, indicou um relatório do Centro para Avaliações Estratégicas e Orçamentárias, citado pela revista em sua edição digital.
Esse montante de capital "destruído" por meio de mísseis e bombas, na verdade, revela-se como uma eficiente alavanca de acumulação para as potências envolvidas. Como reconhecem até mesmo analistas burgueses, a ação do governo Obama, que fere o seu discurso pacifista de campanha, é interessante para tirar a economia norte-americana da recessão.
Complementar à destruição de forças produtivas, a burguesia vence os períodos de crise, diz ainda Marx, com a "conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos". Eis aí outro aspecto da ofensiva militar na Líbia e, em todas as demais invasões imperialistas recentes, vide o caso do Iraque.
Portanto, diante de um quadro de profundas contradições no Oriente Médio e Norte da África, oriundo de uma crise global do capitalismo, que afeta desde a região dos conflitos até as potências imperialistas, a guerra seguida de um processo de "conquista de novos mercados" - em outras palavras, seguida de um processo de recolonização branca - é a única saída que o grande capital pode apresentar. Mas, como conclui Marx, tal processo leva "ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las".

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