
Eis aqui a continuação da reflexão do "Pensador" acerca do sentido político. Aos amáveis leitores peço que não se aborreçam com a pobreza de meu engenho. Sendo assim, recebam este texto do modo como se tomam todas as coisas dos amigos: considerando mais a intenção de quem manda do que as qualidades da coisa mandada.
Quando retornamos ao modelo de democracia dos gregos não queríamos reviver os eventos e o contexto dos mesmos, apenas estávamos alertando para os fundamentos da vida política. Independente de quais fossem as condições históricas havia no berço da filosofia princípios essenciais para a saúde do corpo político. Tais princípios aclamavam a liberdade pública (o que perdemos hoje) e a partição na esfera coletiva. A Ágora (praça pública) enquanto espaço das instituições políticas alimentava os debates e discursos. O direito à palavra (isègoria) era um elemento indispensável para a boa ordenação da cidade. Além do mais, a isonomia reservava a igualdade de direitos perante a lei.
Por outro lado, se tomarmos o modelo grego como referencial para a política atual, iremos claramente perceber a ausência do "sentido" político. Como já observamos outrora, a política foi reduzida à mera satisfação das necessidades, se tornando uma atividade dispendiosa e puramente burocrática. Não existe em nossos dias, um espaço de manifestação política, em outras palavras, não há uma esfera institucional que dê ouvidos a população. Os partidos estão fechados em suas mônadas impossibilitando a participação da sociedade. E quando esta última procura reivindicar seus direitos não faz por vias legais, pois inexiste uma "Ágora" que acalenta seus anseios. Assim, as grandes conquistas sociais não ocorreram pela vontade deliberada dos nossos representantes, ao contrário, foi por meios "Extraordinários" que o povo forjou seus direitos.
Se um Estado é incapaz de escutar os clamores de seus cidadãos e de colocá-los como peças fundamentais para a organização do espaço político, este Estado já apresenta forte indício de degeneração. Desse modo, podemos sem receio dizer que, o Estado atual não se configura como um estado político. Gostaríamos de retornar a história para reforçar essa afirmação. Desta vez nos ocuparemos do Estado Romano, antes deste se tornar império. Quando Roma possibilitou o surgimento dos tribunos da plebe, não somente equilibrou o poder dos cônsules e dos senadores, mas institucionalizou os conflitos sociais. Nesse sentido, garantiu a população um espaço na organização da cidade tornando-se assim, uma república sadia.
O leitor já deve ter compreendido por quais caminhos envereda nosso texto. O resgate político do qual nos apropriamos é antes de tudo, uma (re)significação da AÇÃO política. Não reivindicamos uma igualdade material ou um estado sem classes, receio àqueles que propõem tal intento. Aliás, é preciso estar atento aos discursos que prezam pelo universal, como se um grupo específico fosse capaz de dizer o que seria melhor para todos. Ao contrário, a política da qual comungamos é aquela fundada na pluralidade, ou seja, na soma de vontades particulares que se unem em prol de um benefício comum.
É o significado de ação que nos permitem pensar um conceito para política. Conceito que não nasce de um modelo fixo ou ideal, mas, ao contrário, se constrói pela própria dinâmica da participação popular. Assim, a ágora grega e os tribunos romanos se configuraram como espaços políticos porque possibilitaram as manifestações dos grupos sociais por meio de instrumentos legais.
Precisamos recobrar esse sentido político que está para além dos partidos tradicionais e das simples eleições de representantes. Não podemos aceitar a atual conjuntura política e os discursos ideológicos que surgem em tempo de eleições. O voto que muitos doutos julgam ser o instrumento da sociedade, levado ao extremo não representa nada, muito menos a vontade consciente do eleitor. É necessário resgatar as virtudes cívicas e impor a qualquer forma de governo, principalmente a república, o direito “legal” da participação social na organização da vida pública. Isto caracteriza a verdadeira essência da política e da liberdade humana.
Maicon Fortunato - 2010