segunda-feira, 30 de maio de 2011

A marcha e os futuros alternativos


Redes e ruas vislumbram os PreCogs. Quando futuro intolerante se precipita e parece inexorável é preciso reagir, deter, interceptar, barrar
Por Ivana Bentes
No filme Minority Report, mutantes geniais,  sensitivos-sensoriais, alucinam o  futuro. Os PreCogs (criação de Philip K. Dick), considerados “idiotas”, “doentes’ e “drogados” pelo sistema, têm o poder  de premonição do futuro, vislumbram cenas, indícios,  fragmentos e sinais de possíveis crimes.
Uma premonição paradoxal que seria totalmente inútil se não existisse a possibilidade de alterar o futuro. Criar realidades alternativas.
Pois uma desses futuros múltiplos começou a se formar com uma inédita articulação entre os movimentos sociais, culturais, coletivos, redes, midialivristas, pontos de cultura, minorias e maiorias em torno da Marcha da Liberdade (#marchadaliberdade 28M) de São Paulo.
Estamos vendo se construir um movimento transversal conectado pelas lutas locais e globais, exigindo liberdade de expressão, cultura livre, combate ao preconceito. São os nossos PreCogs, uma nova “classe” transversal, o Precariado Cognitivo, precários sensitivos que alucinam/criam futuros.
Junta o precariado da cultura, camelôs, removidos, agentes da economia informal, os garotos de classe media diplomados autônomos desempregados, todos que tem que inventar seu próprio trabalho, os eco-ativistas, os militantes pela legalização das drogas, homoafetivos, os pretos, as periferias, os que andam por terreiros&quilombos ou por terras digitais. Todos os que couberem no vão do MASP. Uma espécie de Portal e plano piloto  para startar os movimentos transversais.
É que depois da repressão brutal, a marcha da maconha de São Paulo (nosso 21M) decolou e virou a marcha pela liberdade de expressão, a marcha dos diferenciados, dos insatisfeitos, juntando os indignados sensitivos que prevêem os crimes futuros em marcha, a intolerância e o retrocesso, se não alterarmos radicalmente o rumo dos últimos acontecimentos da MATRIX.
A Marcha da Liberdade é também o “relatório das minorias” (nosso minority report, numa tradução livre), dos que são atacados pela policia, pelos skinheads neo-nazistas (anti marcha e anti-gays), pelos ruralistas, monoteístas, monopolistas, pelos “monos”.
Sem um objetivo único, mas com várias reivindicações e questões amplas, a marcha vai colando no fluxo do desejo de mudança que varre o Acampamento Global e juntando movimentos os mais diversos.
É que a MATRIX, o Brasil hoje, é a mais completa e paradoxal tradução de um conto de Jorge Luis Borges: O Jardim dos Caminhos que Se Bifurcam.
Borges, cego-vidente, aponta os paradoxos do tempo e das realidades  que se acavalam. Os mundos “incompossíveis”, da teoria de Leibniz.
O país em que Dilma ganhou as eleições deveria ser “incompossível” com o Brasil fabulado por Serra, com o Brasil da bancada ruralista derrotando os povos da floresta, da Matrix religiosa derrotando a liberdade de expressão e as opções sexuais.
O governo Dilma (alavancado pela Multidão de singularidades) deveria ser “incompossível” com um Ministério da Cultura fraquejante, longe da potencia dos movimentos e do Brasil-mundo da cultura digital. O Brasil2.0 liberado por Lula-Macunaíma.
Das redes as ruas, das ruas as redes, vislumbram os PreCogs. Quando um futuro intolerante se precipita e parece inexorável é preciso reagir, deter, interceptar, barrar. Precognição  e intervenção para assegurar autonomia e liberdade, criando realidades alternativas. Liberar novos fluxos.
Os múltiplos futuros estão ai, dentro da Matrix. Nossas ficções se tornam História. De maio de 68 a Puerta del Sol, das revoltas árabes e descontentes globais a #marchadaliberdade,  neste exato momento mais de 700 mobilizações em prol da liberdade no mundo, trata-se de uma única linha subterrânea de guerrilhas reais e simbólicas que irrompe e se bifurca, ilimitada.
A  Marcha da Liberdade é a 1a. Marcha Transversal dos PreCogs: Precariado cognitivo, pós-partidos, pós- classe, pós-caretice. Ativismo, anti-preconceito, governança digital, Mídia Livre, Politica2.0, MinCSomoNos, Pontos de Cultura, MobilziaCultura, ForaDoEixo,  Coletivo DAR, Bicicletada, Desentorpecendo…
Cabem todos no vão do MASP, dia 28 de maio, sábado, 14h
*esse era um tweet para o @pablocapile mas não coube em 140 toques

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A PM no campus, Rodas e o território livre


A PM no campus, Rodas e o território livre


O incidente que vitimou o estudante da FEA, Felipe Ramos de Paiva, de 24 anos, deve ser repudiado. Felipe foi assaltado junto ao seu carro no estacionamento da USP depois de ter sacado dinheiro em caixa eletrônico interno à universidade. Ao reagir, foi baleado à queima roupa. Este tipo de crime, o assalto a mão armada na saída de agências bancárias, é uma ação cada vez mais freqüente nas grandes cidades brasileiras, tendo ficado conhecida como “saidinha de banco”.
Portanto, o assassinato do estudante da USP está longe de ser uma exceção. A novidade desta ação é que ela ocorreu no interior da maior universidade brasileira, o que faz com que assuma uma dimensão singular. Não só porque a universidade reúne uma elite econômica, mas também porque reúne (ou deveria reunir) uma vanguarda intelectual e cultural de dimensões não apenas nacionais como também latino-americanas. O local do crime põe à mostra o absurdo cotidiano de nossas grandes cidades, as contradições sociais que se convertem em violência.
É nesse sentido que a morte do estudante, assim como a morte de todas as vítimas do crime organizado, deve ser repudiada. O que chama a atenção, no entanto, é a reação das autoridades universitárias. Na tentativa de "se explicar", em busca de justificar possível omissão da prefeitura do Campus, alguns diretores de unidades e do alto escalão da direção da Universidade vem à público com um discurso conservador e reacionário, impróprio para a ocasião, que soa, além de tudo, oportunista.
Entre as declarações, a que chama mais a atenção é aquela do prof João Grandino Rodas, atual Reitor da USP. Para Rodas, a questão gira em torno da presença de mais polícia no campus. Para Rodas, o campus "acaba sendo um santuário de bandido" . Chama a questão de tabu que a comunidade universitária parece não aceitar. Em seguida, detalha que certo setor da comunidade é o principal responsável pelo tabu. “São grupos pequenos de resistência, mas muito efetivos, (pois) aparecem na mídia, fazem cartazes e são barulhentos" diz Rodas. E conclui que “sobrou um grande ranço e daí há aquela ideia de que o campus é um território livre e a polícia militar não entra”.
Algumas considerações sobre o que Rodas diz devem ser feitas. Em primeiro lugar, a PM já tem uma presença ostensiva no campus, resultado de um decreto de sua própria autoria. O que ele espera além disso? Que a PM inicie revistas nos pedestres, intercepte suspeitos e faça interrogatórios nos intervalos das aulas? Em segundo lugar, como lembra o Sintusp, em sua carta pública sobre a morte do estudante, a guarda universitária foi desmantelada e terceirizada por Rodas, resultando em um efetivo muito mal preparado e cujo objetivo primeiro é a repressão às atividades estudantis extra-classes.
Na verdade, o teor da declaração de Rodas, como um todo, revela uma incompreensão absoluta do real significado do que é uma universidade pública. E a artilharia de Rodas tem um alvo direto, não se dirige contra a "bandidagem" - como é possível que um reitor possa usar tal expressão? - mas sim contra aqueles que Rodas chama de "grupos de resistência".
Tais "grupos de resistência" nada mais são que todos aqueles - estudantes, professores, funcionários, entidades, organizações políticas e movimentos - que não compactuam com o projeto de universidade dessa burocracia da qual Rodas faz parte. A universidade ideal para Rodas é aquela das blitz de prevenção, não apenas nas avenidas da cidade universitária, mas também nas salas de aula, nas assembléias e festas, em que se revistam e vigiam as idéias e o pensamento crítico. A universidade ideal para Rodas é aquela do capital, a serviço do capital, que faz do livre pensamento algo obsoleto, que espera transformar o ensino em um condomínio privado, cheio de grades e guaritas, a ser vendido como um empreendimento de luxo no mercado.
Finalmente, o que ele chama de "grande ranço" é, na verdade, uma grande resistência que é, ao mesmo tempo, a essência do ser de uma universidade pública. Reconhece o próprio reitor - com um rancor digno de um padre da inquisição - "há aquela ideia de que o campus é um território livre". Sim, Sr. Reitor, o campus é um território livre onde todas as atividades são lícitas, um espaço crítico e de reflexão, de contestação das contradições políticas e sociais que esta sociedade carrega e não consegue resolver.  

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sétimo Selo

CONTEÚDO DIDÁTICO: FILOSOFIA E HISTÓRIA - CRISE NO SISTEMA FEUDAL, EXISTENCIALISMO, HEIDEGGER, ALBERT CAMUS.

Dados do Arquivo:
País de Origem:  Suécia
Gênero: Drama/Fantasia
Tempo de Duração: 96 minutos
Ano de Lançamento:  1957
Formato: AVI
Qualidade: DVD Rip
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Direção: Ingmar Bergman
Elenco
 Max Von Sydow, Gunnar Björnstrand, Bengt Ekerot, Nils Poppe.

Sinopse:
Após dez anos de combate nas Cruzadas, um cavaleiro retorna ao seu país, encontrando-o devastado pela Peste Negra. Em sua nova luta contra a Peste, o cavaleiro pede uma trégua, durante a qual ele jogará uma partida de xadrez com a Morte. Sempre acompanhado de seu fiel escudeiro Jons, o cavaleiro depara-se então com a morte, através da fome e da peste. Suas dúvidas e tormentos só são aliviados quando conhece Jof e Mia, um ingênuo casal de saltimbancos.

Assista ao trailer

CONTEXTO HISTÓRICO

O século XIV assinala o apogeu da crise do sistema feudal, representada pelo trinômio "guerra, peste e fome", que juntamente com a morte, compõem simbolicamente os "quatro cavaleiros do apocalipse" no final da Idade Média.

Inicialmente, a decadência do feudalismo resulta de problemas estruturais, quando no século XI, a elevada densidade demográfico na Europa, determinou a necessidade de crescimento na produção de alimentos, levando os senhores feudais aumentarem a exploração sobre os servos, que iniciaram uma série de revoltas e fugas, agravando a crise já existente.

As cruzadas entre os séculos XI e XIII representaram um outro revés para o sistema feudal, já que seus objetivos mais imediatos não foram alcançados: Jerusalém não foi reconquistada pelos cristãos, o cristianismo não foi reunificado, e a crise feudal não foi sequer minimizada, já que a reabertura do mar Mediterrâneo promoveu o crescimento de relações econômicas mais dinâmicas, representadas pelo Renascimento Comercial e Urbano, que já contextualizam o "pré-capitalismo", na passagem da Idade Média para Moderna.
O trinômio "guerra, peste e fome", que marcou o século XIV, afetou tanto o feudalismo decadente, como o capitalismo nascente. A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) entre França e Inglaterra devastou grande parte da Europa ocidental, enquanto que a "peste negra" eliminou cerca de 1/3 da população européia. A destruição dos campos, assolando plantações e rebanhos, trouxe a fome e a morte.
Nesse contexto de transição do feudalismo para o capitalismo, além do desenvolvimento do comércio monetário, notamos transformações sociais, com a projeção da burguesia, políticas com a formação das monarquias nacionais, culturais com o antropocentrismo e racionalismo renascentistas, e até religiosas com a Reforma Protestante e a Contra Reforma.
Insere-se ainda nessa mesma conjuntura, o início do processo de expansão ultramarina, que abrirá os horizontes comerciais para os Estados europeus fortalecendo tanto a burguesia nascente, como os monarcas absolutistas a ela aliados nesse momento.




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A EXISTÊNCIA: SER E TEMPO NA OBRA DE BERGMAN




Foi com O Sétimo Selo que o diretor sueco ganhou fama internacional. O filme foi o principal responsável pela recuperação, para o cinema sueco, e fez um total de 54 filmes, 39 peças para o radio e 126 produções teatrais, onde seus temas principais eram Deus, a Morte, a vida, o amor, a solidão, o universo feminino e as relações humanas, principalmente entre os casais.
Ernst Ingmar Bergman (Uppsala, 14 de julho de 1918 — Fårö, 30 de julho de 2007) foi um dramaturgo e cineasta sueco. Estudou na Universidade de Estocolmo, onde se interessou por teatro e, mais tarde, por cinema. Iniciou a carreira em 1941, escrevendo a peça teatral "Morte de Kasper". Em 1944, desenvolveu o primeiro argumento para o filme "Hets". Realizou o primeiro filme em 1945, "Kris".
Somente após o sucesso de “Sorrisos de uma noite de amor” que Ingmar obteve permissão para filmá-lo. Bergman disse em uma entrevista "Foi baratíssimo e muito simples", mas na biografia critica de Peter Cowie, a origem de O Sétimo Selo é tratada de modo a aparecer um pouco menos simples. Cowie diz que a peça original é um ato para dez estudantes, entre eles Gunnar Bjornstrand, e foi levada a cena pelo próprio Bergman em 1955. Mas a encenação que arrebatou a critica ocorreu em setembro do mesmo ano quando um outro elenco, que contava com a presença de Bibi Anderson dessa vez, representou no Teatro Dramático Real de Estocolmo, sob a direção de Bengt Ekerot (ator e diretor renomado que interpretou a Morte em O Sétimo Selo). Apenas alguns elementos foram aproveitados no roteiro final do filme: o medo da peste, a queima da feiticeira, a Dança da Morte. Mas a partida de xadrez entre a Morte e o Cavaleiro não havia, e, nem existia o artístico-bufanesco "santo casal" Jof e Mia com seu bebê. Somente Jons, o Escudeiro, não sofreu mudanças. A parte técnica do filme “O Sétimo selo” é de extrema perfeição devido a grande experiência que Bergman tinha sobre cenário, atuação e fotografia.


Para a análise me apropriarei do pensamento da filosofia existencial. A proposta do existencialismo é a de entender como especulação filosófica que visa a análise minuciosa da experiência humana em todos os seus, mas acima de tudo dos aspectos irracionais da existência humana. Encontramos as origens do Existencialismo em Sören Aabye Kierkegaard (Copenhague, 5 de Maio de 1813 — Copenhague, 11 de Novembro de 1855). Foi de grande importância para o filósofo Heidegger (Meßkirch, 26 de Setembro de 1889 — Friburgo, 26 de Maio de 1976). Esta linha filosófica é de grande utilidade para decifrar os aspectos filosóficos do filme de Bergeman.


A história é simples. Um Cavaleiro e seu Escudeiro voltam das Cruzadas. O país está assolado pela peste. Eles se encontram com a Morte e o Cavaleiro faz um trato com ela: enquanto conseguir contê-la numa partida de xadrez, sua vida será poupada. Na viagem pela terra natal, encontram artistas, fanáticos, ladrões, patifes, mas por toda parte a presença da Morte, empenhada em ganhar o jogo por meios lícitos e ilícitos. A cena de abertura dá o tom: antes de qualquer imagem a música começa solene Dies Irae ("Dia da Ira" é um famoso hino, em latim, do século XIII. Pensa-se que foi escrito por Tomás de Celano). O passar das nuvens e a música dão o tom do drama bergmaniano.





Neste filme, o tema da existência (existenz) é preponderante, temos vários conceitos-imagem para ser trabalhado nesta belíssima obra filosófica que discute a angústia, o desespero e a a sua finitude. No filme, a morte está sempre presente, tentando seduzir o cavaleiro, como se ela fizesse parte da própria angustia do cavaleiro. Ela é a lembrança da mortalidade, da temporalidade e inconstância das coisas. Há uma grande batalha entre o cavaleiro e a morte, esta batalha está representada no jogo da xadrez a imagem mais importante do filme.


Ao fundo, temos como cenário o mar, o mar simboliza esta temporalidade, há uma dialética existencial por trás das ondas. Diante da sua própria condição o cavaleiro se encontra no paradigma da angústia O com que a angústia se angustia não é nenhum ente intramundano.





Na angústia, diz-nos Heidegger, acompanhando Kierkegaard, o que nos ameaça não está em parte alguma. Não estando em parte alguma, a ameaça entretém relação com algo que não é intramundano” [...] É afinal o Dasein mesmo que nos angustia, porque já sem a proteção do cotidiano, revelando-se, então, nesse sentimento; o poder-ser livre, a possibilidade de escolha [...] (NUNES, 2004, p.19).







Ela se angustia com o ser no mundo, ou seja, inserido com e no mundo, que é algo completamente indeterminado. Para a angústia, o que ameaça não se encontra em lugar algum. “Lugar algum” diz respeito à abertura de mundo, e mundo é o que se abre e se encontra sempre presente, mas em lugar algum, é o nada. Esta é a grande luta que o homem trava consigo mesmo, diante do mundo, que aparece caótico, ele se depara com sua própria existência e sua condição de mortalidade. Para Heidgger, a angústia encontra-se diante de duas percepções do não-ser: o antes do nascer e o depois de morrer. Bem diversa do medo comum e da ansiedade neurótica, a angústia existencial não degrada o homem. Antes, exalta-o, enobrece-o, porque decorre de sua consciência de estar-no-mundo e de sua liberdade de poder-ser, ou deixar-de-ser.


Enquanto possibilidade de ser da pre-sença(*), a angústia, junto com a própria pre-sença que nela se abre, oferece o solo fenomenal para a apreensão explícita da totalidade originária da pre-sença. Esse ser desentranha-se como cura (HEIDEGGER, 1988, p. 245).




Ela é a voz, que emerge de sua consciência moral, para recordar-lhe, retrospectivamente, a culpa, e prospectivamente, a morte, esse grande mistério jamais decifrado, diante do qual impõe-se a responsabilidade da realização de seus projetos, livremente escolhidos.
Ou seja, o filme pode ser entendido como a jornada do homem como um lançado no mundo, diante de sua condição humana é o ser diante do tempo. Quando o homem toma consciência dessa existência ele pode tomar sua própria vida e sua liberdade, na verdade o homem quando nasce já se torna um ser para a morte, um ser para a totalidade, portanto, para sua finitude.

MATERIAL COMPLEMENTAR
(CLIQUE PARA ACESSAR)

O SÉTIMO SELO DE BERGMAN E O ESTRANGEIRO DE CAMUS: OS MATIZES DA FINITUDE.





___________________________________
*Pre-sença é tradução brasileira para Dasein.


HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Parte II. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Coleção Pensamento Humano, Petrópolis: Vozes, 1989, 340p.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Parte I. Tradução de Márcia de Sá Cavalcante. Coleção pensamento Humano, Petrópolis: Vozes, 1988, 328p.
Kierkegaard, Soren. O conceito de angústia. Tradução de Eduardo Nunes Fonseca e Torrieri Guimarães. Hemos, 2007.

Filmografia:
Det Sjunde Inseglet O Sétimo Selo. Ingmar Bergman. Suécia.1956. 96 minutos.

sábado, 21 de maio de 2011

A crise européia se aprofunda


A crise européia se aprofunda

"A própria burguesia não encontra saída"
Leon Trotsky
Nesta última quarta-feira, milhares de trabalhadores suspenderam suas atividades na Grécia para protestar contra o programa de austeridade adotado pelo governo em troca da ajuda financeira oferecida pela União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
A greve geral aconteceu enquanto inspetores da União Europeia e do FMI visitavam Atenas para avaliar a situação econômica grega, um ano após a concessão dos recursos financeiros que evitaram a quebra do país.
A paralisação afetou principalmente as empresas estatais que o governo pretende privatizar dentro da estratégia para reduzir a enorme dívida do país, informou a agência Reuters. O tráfego aéreo foi interrompido devido à participação dos controladores aéreos, o que levou ao cancelamento ou remarcação de centenas de voos. Os navios e os trens também pararam. Os hospitais públicos atenderam apenas casos de emergência. Ainda segundo a Reuters, a Grécia viveu um blecaute informativo pela participação na greve dos jornalistas de toda a imprensa, em particular protesto pela onda de demissões e más condições de trabalho.
A greve geral tenta barrar um novo plano de austeridade para arrecadar cerca de 76 bilhões de euros até 2015 mediante a privatização de empresas estatais e a venda de bens públicos, para reduzir o déficit público.
As medidas de austeridade vão minando o nível de vida do povo grego. Segundo dados oficiais, o desemprego atinge a casa dos 15% e para os sindicatos a taxa deve subir ainda mais e bater os 20 % até o final deste ano. Os jovens são os mais atingidos pela recessão: 40,4% das pessoas com idade entre 15 e 24 anos estavam sem emprego em fevereiro, acima dos 32% no ano passado.
A situação na Grécia preocupa as autoridades da UE e do FMI. Relatório do Fundo Monetário aplaude os cortes do governo grego, mas aponta um risco de expansão da crise para outros países da zona do Euro. "Respostas políticas fortes têm conseguido conter os problemas de dívida soberana e do setor financeiro na periferia da zona do euro até agora, mas um contágio para o centro do bloco, e então para a Europa emergente, permanece como um risco negativo tangível", afirmou o FMI.
A magnitude da crise econômica afasta definitivamente a impressão de se tratar de uma crise local, ou regional. Seus ecos são sentidos não somente nos países centrais do bloco europeu, como em todo o mundo. O espetacular extermínio Bin Laden pode aumentar a popularidade de Obama e salvar a sua reeleição, mas não pode esconder a recessão naquele país. Da mesma forma, a guerra contra Kadaffi e os levantes no Oriente Médio são apenas formas diversas do aprofundar da crise.
No Oriente Médio e norte da África, um dos aspectos mais importantes da crise é, como já demonstramos em outra ocasião, o fluxo migratório para a Europa. Guerras e conflintos de rua, assim como a alta dos preços dos alimentos e o crescente desemprego vem estimulando uma intensa migração dessas regiões para a Europa, em especial, para a Itália, que somente nos últimos dias recebeu 25 mil imigrantes vindos da Tunísia.
As autoridades européias veem com grande preocupação esse processo, como demonstra a discussão recente sobre o restabelecimento do controle das fronteiras e a revogação do tratado de Schengen. O documento de Schengen, assinado em 1985, garantia livre trânsito entre as fronteiras de 27 países da Europa. A suspensão do acordo, conforme noticiou a Folha online, foi defendida pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, e pelo primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, que se reuniram no fim de abril para debater a possibilidade de que os imigrantes tunisianos invadissem o território francês a partir do lado italiano da fronteira.
Por trás da discussão sobre a revogação ou não do tratado de Schengen e da questão da imigração se oculta a transposição da crise econômica para a esfera política, com o crescimento da extrema direita e seu discurso anti-imigração. Na França, por exemplo, a Frente Nacional, de Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, assume o primeiro lugar nas pesquisas para a eleição presidencial de 2012 com um discurso radical contra os imigrantes e pelo fim da União Européia, que, segundo Le Pen, "brilha com a luz de uma estrela morta".
Com o sueco Jimmie Aekesson, o húngaro Gabor Vona e o neozelandês Geert Wilders, Marine Le Pen personifica o novo rosto da extrema direita europeia. Le Pen, por sua vez, dificilmente encontrará um caminho consistente para superar a crise. Como escrevia Leon Trotsky, no Programa, "a própria burguesia não encontra saída" para a crise. "Nos países onde foi obrigada a fazer sua última jogada com a carta do fascismo," continua Trotsky, "ela caminha, atualmente, de olhos fechados, para a catástrofe econômica e militar".
Catástrofe esta que não demora a chegar na América Latina. Ainda que a alta dos preços das commodities encubra os efeitos da crise, mesmo entre os porta-vozes da burguesia, como o diretor do FMI para o Hemisfério Ocidental, Nicolas Eyzaguirre, já se aceita a idéia de que toda a "euforia e exuberância" econômica pode "acabar em lágrimas".  
FONTE:
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